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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

David Hume e Adam Smith tinham uma relação amorosa, diz Pedro Arroja

Alexandre Guerra, 22.08.07

Foi com alguma surpresa que o Diplomata constatou existir um "pensador" da praça que está neste momento mergulhado em investigações profundas sobre David Hume e Adam Smith. Tratam-se de descobertas verdadeiramente revolucionárias que escaparam até hoje a todos os demais investigadores nacionais e estrangeiros que se debruçaram sobre aqueles autores do século XVIII.


Ironia à parte, a verdade é que o Diplomata considera estar-se perante algumas extrapolações abusivas. Assim, à tese de Pedro Arroja do Portugal Contemporâneo, Carlos Botelho de O Cahimbo de Magritte replicou com sapiência e humor. Um debate imperdível para todos os leitores que se interessem por Ciência e Filosofia Políticas. AG  

Afinal, a culpa do rapto dos portugueses na Venezuela é de Washington

Alexandre Guerra, 21.08.07

A propósito do rapto de David Barreto Alcedo e de três menores portugueses na região venezuelana de Táchira, o enviado especial da RTP deslocou-se àquela zona fronteiriça com a Colômbia para falar com um responsável das forças de segurança nacionais. 


O militar da Venezuela reiterou a ideia de que os quatro portugueses foram raptados por elementos pertencentes a uma guerrilha colombiana, algo que parece não ser contestado. Porém, o mesmo responsável revelou que os raptos nas zonas fronteiriças começaram em 2002. E porquê? Por causa do "Plano Colômbia".


É aqui que o militar revela uma componente ideológica interessante, já que não hesitou em atribuir ao "Plano Colômbia" as causas para as incursões dos guerrilheiros colombianos em território venezuelano. Indirectamente, o militar responsabiliza os Estados Unidos pela insegurança que se vive nalgumas regiões da América do Sul, através de um discurso ideologicamente consonante com o do Presidente Hugo Chavez.


Embora possa existir alguma relação entre as operações militares que têm sido desencadeadas na Colômbia com a ajuda das forças americanas, a verdade é que a explicação dada pelo militar peca pela ausência de rigor e é orientada sobretudo por critérios ideológicos.


Esta posição é reveladora da política levada a cabo pelo Presidente venezuelano, que nos últimos anos tem tentado impôr um regime de pensamento único, seja nas forças armadas, nas elites empresariais ou na classe política. AG

Leituras

Alexandre Guerra, 20.08.07

Uma "guerra justa" condenada ao esquecimento e ao fracasso. Em The Good War, Still to Be Won o New York Times no seu editorial mostra-se bastante pessimista e crítico face ao conflito que deflagra no Afeganistão. Mais uma vez, o diário nova-iorquino não poupa a administração de George W. Bush.


Ainda no mesmo jornal recomenda-se uma interessante reportagem sobre a penetração da China em África. China's Investment in Africa comes With a Price revela a Zâmbia como um modelo da política de investimento externo levada a cabo por Pequim.

Os males de África em toda a sua brutalidade

Alexandre Guerra, 19.08.07

Numa excelente reportagem divulgada este domingo no Público, escrita por uma jornalista da Reuters, os males de África são expostos de uma forma cruelmente simples e sincera. Em poucas palavras, as pessoas ouvidas por Stephaine Hancok, neste caso refugiados no Chade vindos de Darfur, descreveram o quão desconfiam dos seus irmãos africanos, o medo que têm dos rebeldes, o desespero face aos processos de paz e a violência de que são alvo diariamente.


Em síntese: 


Sobre a força "híbrida" ONU-UA que está em preparação para o Darfur, Amna Adam Khamis, refugiada de 70 anos, é peremptória: "Não queremos tropas africanas, só queremos soldados da ONU. Não podemos confiar nas tropas da União Africana, que são as mesmas do Governo do Sudão [...] Queremos pessoas do mesmo modelo, da mesma cor, que vocês [apontando para um jornalista de uma televisão ocidental, ou seja, branco]."


No que concerne à violência que tem sido perpetrada desde 2003 em Darfur, à imagem do que tem acontecido noutras regiões africanas nas últimas décadas, o relato da jovem Touma, que esteve refém num campo Janjaweed, é brutal. "Eu tinha o meu filho às costas e estava a correr. Os Janjaweed bateram-me e eu caí. Tiraram-me o bebé e mataram-no. Levaram-me para o acampamento deles, fiquei lá três meses. Cozinhava e limpava para eles, e cuidava dos animais. Todas as noites, dez ou onze homens vinham violar-me. Eu chorava, mas ninguém me ajudava." AG

A crença cega de George W. Bush na tecnologia balística

Alexandre Guerra, 18.08.07

 

O sistema anti-míssil que está a ser desenvolvido pelos Estados Unidos e que já provocou uma crise diplomática entre Washington e Moscovo é visto por muitos analistas e especialistas como uma reedição da Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE) do então Presidente republicano, Ronald Reagan. Na altura, a "Guerra das Estrelas" visava defender o território americano das armas estratégicas soviéticas, no entanto, a grandeza e a excentricidade do projecto tornariam inviável a sua materialização. 

Sensivelmente duas décadas depois foi outra administração republicana a patrocinar um projecto semelhante, na medida em que o actual "escudo" que está a ser construído volta a ter como função detectar e protejer o território americano de vectores intercontinentais. E é aqui precisamente que reside um dos principais problemas do sistema anti-míssil, porque no actual contexto das relações internacionais, e ao contrário do que se passava no sistema bipolar de Guerra Fria, a natureza das ameaças mais prementes assumiu outras características.

Como a própria administração americana admite, os mísseis intercontinentais deixaram de ser a maior ameaça à segurança dos Estados Unidos, sendo que actualmente apenas a Rússia tem real e efectiva capacidade de atingir o território americano com vectores de ogivas múltiplas. A opinião é unânime e consensual, o actual sistema anti-míssil está desajustado às novas realidades, nomeadamente ao terrorismo levado a cabo por entidades transnacionais dotadas de elevada capaciade tecnológica. 

Seja como for, o Presidente George W. Bush conseguiu passar da teoria à prática, de tal forma que já se está numa fase de instalação de componentes em países como a Polónia e a República Checa. Porém, o actual projecto está igualmente manchado por uma espécie de "erro original" que se pode traduzir num investimento de milhões de dólares sem que haja um retorno substancial, à imagem do que se passara com a IDE (mas neste caso, Reagan nunca levou por diante a sua ideia): a crença cega na tecnologia.

Bush e Reagan partiram do pressuposto comum quando idealizaram os seus projectos, de que a tecnologia disponível no sector militar permitiria a construção de um sistema eficaz e eficiente de detecção e destruição de mísseis intercontinentais. Ora, dantes tal como hoje, a tecnologia disponível ainda não permite que se assuma com veemência a fiabilidade do sistema anti-míssil em desenvolvimento. Na verdade, são mais as dúvidas alimentadas pelos testes falhados do que as certezas.

Assim, foi sem grande surpresa que Rebecca Slayton, investigadora do Center for International Security and Cooperation da Universidade de Stanford, constatou o fracasso do teste levado a cabo pelo Pentágono em Dezembro de 2004. Além do mais, independentemente dos testes que possam ser realizados (e ao longo de 50 anos eles têm sido feitos no âmbito da indústria dos mísseis), Slayton disse à Bulletin of The Atomic Scientists (Julho/Agosto) que "mesmo que as componentes do hardware e do software do sistema sejam testadas com sucesso, o software que coordena o sistema como um todo nunca pode ser testado em termos operacionais enquanto não houver um ataque verdadeiro".

Esta é a mensagem que os cientistas têm tentado transmitir ao poder político desde os anos 60. Ou seja, a tecnologia não pode dar resposta a todos os problemas, pelo menos enquanto não for confrontada com situações reais. Apesar da administração Bush acreditar que no actual estado de desenvolvimento científico é possível contornar determinados obstáculos,  Peter Neumann, cientista do SRI International Computer Science Lab, tem tentado, juntamente com outros colegas, combater a ideia de que a "tecnologia dá resposta a todas as doenças da sociedade, sejam máquinas de voto electrónicas para resolver problemas eleitorais, programas biométricos para identificar terroristas ou a construção de um escudo anti-míssil para travar um ataque nuclear". Alexandre Guerra 

Notas diplomáticas

Alexandre Guerra, 17.08.07

Num clima de "guerra de comadres" com Francisco Louçã, Vasco Pulido Valente escreve hoje no Público o seguinte em relação ao líder do Bloco de Esquerda: "Temos de ter paciência com estes restos do marxismo que apodrecem no meio de nós." É de facto uma evidência científica.


Mas, Pulido Valente tem que ter cuidado quando fala em "restos" que apodrecem nesta pobre sociedade portuguesa. Porque no que toca a "restos", bem estava este país se fossem só os "marxistas". O conceituado cronista do Público tem de ter a consciência que é também preciso ter muita paciência para ler e ouvir aquilo que alguns vão escrevendo e proferindo há mais de 30 anos. Alexandre Guerra 

Ângelo Correia desce do Olimpo para o terreno político-partidário

Alexandre Guerra, 17.08.07

Já por duas ou três vezes o autor destas linhas entrevistou Ângelo Correia e pôde confirmar uma ideia antiga de que, efectivamente, o antigo ministro do Interior é um homem que "pensa bem". Embora não seja um homem de cultura (como o próprio admite), é uma pessoa com grande cultura, nomeadamente política. Com pensamento organizado e um discurso articulado, Ângelo Correia raramente é apanhado a proferir frases inócuas e a comprometer-se com situações sensíveis.


Foi por isso com alguma estranheza e surpresa que o Diplomata ouviu ontem Ângelo Correia a manifestar veementemente ao Mário Crespo o seu apoio a Luís Filipe Menezes nas eleições para a liderança do PSD. Não se discute aqui as eventuais virtudes e qualidades daquele candidato, mas sim a opção de Ângelo Correia.


Opção essa que não deixa de ser curiosa, tendo em conta as diferenças de estilo e de discurso entre o ex-político e o actual autarca. Seja como for, Ângelo Correia vê em Menezes atributos ideológicos que merecem publicamente o seu apoio político. Uma coisa é certa, a entrada em cena de Ângelo Correia poderá fazer mexer alguns históricos do partido que, como tem sido habitual nestes últimos anos, em momentos de "combate político" escondem-se no Olimpo para não manchar a sua imagem. AG   

Reflexões sobre o "poder destrutivo"

Alexandre Guerra, 16.08.07

Na leitura das primeiras linhas da obra de John Keegan, Uma História da Guerra (ed. Tinta da China), o "poder destrutivo" do Terramoto de 1755 não é esquecido: "A destruição de Moscovo pelo fogo foi a única catástrofe material de grande dimensão das guerras napoleónicas, um acontecimento cujo efeito psicológico na Europa correspondeu ao do terramoto de Lisboa, em 1755. Numa era de crença, a destruição de Lisboa afigurara-se como uma terrível demonstração do poder do Omnipotente (...)."   


Também Vasco Graça Moura, na introdução ao O Poema sobre o Desastre de Lisboa (ed. Aletheia) de Voltaire, escreve que "o terramoto de 1 de Novembro de 1755 provocou uma profunda alteração na consciência europeia, quer no plano científico relativo à Natureza, quer no plano ético, teológico e filosófico, no tocante à origem à natureza do Mal e do sofrimento". Leia-se um excerto da autoria do próprio Voltaire: "Nada sabido é, nada há que não se tema. À natureza as questões pôr não vale; precisa-se de um Deus que ao género humano fale. Só ele poderá a sua obra explicar, ao fraco dar consolo e ao sábio iluminar." AG