Coreia do Norte e o seu programa nuclear (4)
Se a Coreia do Norte queria dar o "grande passo em frente" no seu programa nuclear, as coisas dificilmente poderiam ter corrido pior. Em Julho do ano passado, Pyongyang preparava-se para anunciar ao mundo um novo míssil intercontinental com capacidade para atingir o território americano, mas um minuto depois de ter sido lançado acabou por cair. O descrédito não ficava por aqui.
Como escreve o especialista Jacques E. C. Hymans no Bulletin of the Atomic Scientists (Maio/Junho), "a Coreia do Norte acabou o ano [2006] com uma capacidade reduzida na sua credibilidade de dissuasão ao contrário do que acontecia antes, onde simplesmente deixava as coisas à imaginação do mundo exterior".
Em Outubro de 2006, o regime norte-coreano esperava detonar um engenho nuclear que impusesse respeito à comunidade internacional, porém a explosão terá libertado apenas 10 por cento de energia das 4 quilotoneladas esperadas. É certo que se tratou de uma explosão superior a uma arma convencional, no entanto, esteve longe de se aproximar à potência desejada.
A verdade é que nada disto surpreende num país, onde entre outras coisas, o poder político nem sequer tem capacidade para iluminar as suas ruas à noite. Para Jacques E. C. Hymans, os resultados de 2006 são reveladores do "nível da incompetência técnica do programa de armas estratégicas que poucos analistas se atreveram a mencionar nos últimos anos".
Sendo a Coreia do Norte liderada por um regime no qual a autoridade reside num só homem, cuja legitimidade advém do culto da personalidade, dificilmente conseguiria desenvolver um programa científico tão complexo e exigente. Veja-se o que escreve Jacques E. C. Haymans: "Estes regimes tendem a ser desastrosos na gestão de programas nucleares. Isto porque construir uma bomba não é só uma questão de dinheiro ou de acesso a alta tecnologia. É também a capacidade de gerir um comportamento profissional ético e uma perspectiva de longo prazo. Tal empreendimento é quase impossível para um regime de 'sultanato', dominado por um processo de decisão arbitrário, por intrigas palacianas e enganos e, acima de tudo, por um nível generalizado e radical de insegurança pessoal. O contraste histórico entre programas nucleares de regimes tipo 'sultanato' e outros tipos de regime é avassalador." Alexandre Guerra