Quando no início de Abril a Polónia deixou cair o seu veto ao início das negociações com a Rússia para a renovação do Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica, cedendo assim às pressões da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, a diplomacia portuguesa ganhou a oportunidade para celebrar um documento até ao final do ano. Mas, entretanto, surgiram vários problemas que inviabilizaram o arranque das negociações na Cimeira UE-Rússia, realizada no passado dia 18 de Maio, na cidade de Samara.
A crise espoletada em Abril com a remoção de uma estátua de homenagem aos soldados russos da II Guerra Mundial em Talin é apenas um exemplo. As autoridades estónias decidiram deslocar o soldado de bronze para um local menos visível, uma iniciativa que provocou de imediato protestos dos cidadãos estónios de origem russa e das autoridades em Moscovo. O assunto assumiu proporções ainda mais dramáticas, quando grupos de jovens nacionalistas russos atacaram a Embaixada da Estónia em Moscovo, sendo que o caso não ficou por aqui, suspeitando-se que tenha sido a Rússia a responsável pelo ataque informático a alguns sítios de instituições governamentais estónias.
Esta situação ensombrou os trabalhos da Cimeira UE-Rússia, levando mesmo a que Durão Barroso lançasse um sério aviso a Moscovo. Face aos actuais problemas existentes entre alguns Estados-membros e a Rússia, o Presidente da Comissão invocou o princípio da solidariedade para informar o Kremlin de que a União agirá como um bloco unido. Esta foi a primeira vez que a União Europeia adoptou uma posição deste género face a um Estado terceiro. O presidente da Comissão deixou claro que a União Europeia sairá sempre em defesa dos seus Estados-membros em momentos de crise política e diplomática.
As declarações do presidente da Comissão assumiram ainda maior importância porque foram proferidas na conferência de imprensa que encerrou a cimeira UE-Rússia, na presença de Vladimir Putin.
Sócrates tem agora até ao dia 26 de Outubro (data da Cimeira UE-Rússia) para sanar as divergências e atenuar as desconfianças que reina entre Moscovo e algumas chancelarias europeias. O primeiro passo já foi dado em Moscovo, ao conseguir ganhar a confiança de Putin, aquando da deslocação recente do primeiro-ministro àquele país. Aliás, o The Moscow Times referia-se a Sócrates como o “novo aliado de Putin”.
Apesar das contrariedades, Sócrates tem uma oportunidade para "brilhar" na Cimeira UE-Rússia. No entanto, precisará de muita arte e engenho para conseguir forjar um novo Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica entre a Rússia e a UE até ao final do ano. Sendo uma tarefa difícil, não é impossível. Para a Cimeira UE-Rússia ser frutuosa, Sócrates terá que mobilizar uma equipa discreta mas competente para que nos próximos meses inicie uma "ofensiva" diplomática pelas várias capitais de modo a alcançar consensos.
Relembre-se que o Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica rege as relações entre a União Europeia e a Rússia em vários domínios, sendo o da política energética um dos mais importantes. A vigência do actual acordo termina no final deste ano, no entanto, caso não seja alcançado um consenso, aquele documento é renovado automaticamente por um ano. Uma situação que não agrada aos líderes europeus, que pretendem definir quanto antes um novo modelo de cooperação energética. Alexandre Guerra