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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O novo amigo da Rússia

Alexandre Guerra, 31.05.07

 

O The Moscow Times resumia na edição de ontem o balanço da visita do primeiro-ministro, José Sócrates, à Rússia: "Putin encontra um aliado em Portugal." Independentemente das correcções que o gabinete de Sócrates possa ter feito à tradução de uma entrevista dada por si, na qual manifestava posições demasiado benevolentes face à Rússia, o The Moscow Times insistiu nesse tom. E esta é a posição que conta aos olhos das chancelarias internacionais. Tudo o resto serve apenas para consumo interno, ou melhor dizendo, para "esclarecer" unicamente os portugueses.  

A "amizade" luso-russa pode trazer "problemas" a Sócrates, tendo em conta a posição comum que a União Europeia adoptou face à Rússia na cimeira de Samara, há sensivelmente duas semanas. O presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso, avisou Vladimir Putin de que "um problema com um Estado-membro é um problema com toda a União". Um princípio invocado em nome da solidariedade europeia e que lembra o famoso Artigo 5º da NATO.

Perante isto, e face às notícias veiculadas pelo The Moscow Times (jornal on line em inglês e, consequentemente, um dos mais lidos pelos jornalistas e diplomatas estrangeiros) e outra imprensa, Sócrates terá sido demasiado amistoso e simpático para com Putin, numa altura em que a União Europeia e a Rússia atravessam um período difícil nas suas relações.

Por outro lado, Sócrates poderá ter uma oportunidade para "brilhar" na Cimeira UE-Rússia que se vai realizar em Outubro durante a presidência portuguesa. O primeiro passo já foi dado em Moscovo ao conseguir ganhar a confiança de Putin. No entanto, Sócrates precisará de muita arte e engenho para conseguir forjar um novo acordo de parceria e cooperação estratégica entre a Rússia e a UE até ao final do ano. Sendo uma tarefa difícil, não é impossível. Para a Cimeira UE-Rússia ser frutuosa, Sócrates terá que mobilizar uma equipa discreta mas competente para que nos próximos meses inicie uma "ofensiva" diplomática pelas várias capitais de modo a alcançar consensos. Alexandre Guerra      

Teria sido uma boa primeira escolha...

Alexandre Guerra, 30.05.07

 

Robert B. Zoellick, antigo sub-secretário de Estado norte-americano, deverá ser o próximo presidente do Banco Mundial e suceder, assim, a Paul Wolfowitz. Depois do "erro" da primeira escolha, o Presidente George W. Bush tem oportunidade de se redimir ao confirmar as notícias que foram veiculadas.

Zoellick, que actualmente trabalha na Goldman Sachs, tem bastante experiência em comércio internacional, tendo sido o negociador responsável por esta área nas negociações do âmbito da OMC e contribuído para o arranque da actual ronda de Doha. O seu nome parece ser consensual em vários círculos, nomeadamente nas chancelarias europeias.

É caso para dizer que Robert B. Zoellick teria sido uma boa primeira escolha para a presidência do Banco Mundial. AG 

Pontos de interesse

Alexandre Guerra, 28.05.07

"O  ocaso do Ocidente?", Henrique Raposo em blogue Atlântico.


 "Alguém devia esclarecer a ministra", José Medeiros Ferreira em Bicho Carpinteiro.


 "Mapa de Portugal", em Almocreve das Petas.


"A importância de chamar-se Etonian", Pedro Picoito em O Cachimbo de Magritte.


"La France bling-bling", Marta Rebelo em Cinco Dias.


"Portugal oferece estádio de futebol à Palestina", Ana Cristina Ferreira em Relações Internacionais.

As mulheres no Iraque "libertado"

Alexandre Guerra, 27.05.07

 

Há sensivelmente duas semanas, o mundo ficou a conhecer a trágica história de Du'a Khalil Aswad, uma jovem de 17 anos que foi apedrejada até à morte na sua terra natal de Bashika, Norte do Iraque. O "espectáculo" demorou cerca de meia hora e teve uma assistência de duas mil pessoas. Supostamente, passou-se no início de Abril e foi registado por uma câmara de telemóvel de um habitante. As imagens foram mais tarde colocadas no site curdo Jebar.info e, posteriormente, foram reproduzidas pelas televisões e jornais de todo o mundo.

De acordo com as notícias veiculadas, Du'a, pertencente à minoria religiosa Yezidi, terá se apaixonado por um jovem muçulmano sunita com quem decidiu casar. Por isso, converteu-se ao Islão, o que terá provocado a ira de um grupo de homens yezidis da sua própria família.

Os yezidis são uma seita pré-islâmica e cujas tradições são pouco conhecidas. Sabe-se apenas que praticam uma espécide de culto de adoração ao Diabo e que deverão ter cerca de 300 mil fiéis espalhados pela Arménia, Iraque, Turqia e Síria.

Aquele acto bárbaro e medieval foi praticado no "novo" Iraque, o que foi "libertado" de Saddam Hussein. Mais irónico ainda é o facto de ter acontecido no Curdistão, aparentemente uma região mais ordeira e organizada relativamente ao resto do território iraquiano. Mas, a verdade é que de acordo com as Nações Unidas, as "mortes de honra" têm vindo a aumentar no Curdistão, registando-se pelo menos 40 entre Janeiro e Março deste ano. Na província de Erbil, as violações quadriplicaram entre 2003 e 2006.

As mulheres no Iraque tornaram-se um alvo fácil. Citada pelo Guardian, Houzan Mahmoud, activista curda e representante britânica na Organização para a Liberdade das Mulhers no Iraque, referiu que com o "actual ambiente político no Iraque qualquer pessoa pode cometer crimes contra as mulheres". AG

My name is Lugovoi, Andrei Lugovoi

Alexandre Guerra, 26.05.07

Andrei Lugovoi em Moscovo a praticar tiro (BBC On Line) 

É o homem de quem toda a gente fala e que os britânicos querem ver no banco dos réus. Andrei Lugovoi foi acusado esta semana pela justiça inglesa do assassinato de Alexander Litvinenko, em Novembro último, na cidade de Londres. O ex-agente do KGB vivia exilado na capital inglesa desde 2000 e era um acérrimo crítico do Presidente Putin. A morte de Litvinenko está envolta em mistério e teorias da conspiração, sabendo-se apenas que se ficou a dever à radiação provocada pela ingestão de Polónio 210, uma substância rara e muitas vezes utilizada pelo KGB nos tempos soviéticos.

O procurador-geral britânico, Lord Goldsmith, informou o seu homólogo russo de que Lugovoi, actualmente a viver em Moscovo, deve ser extraditado para Inglaterra por forma a ir a julgamento. As autoridades russas, no entanto, recusam-se a aceder ao pedido de Londres, algo que está de acordo com a lei internacional vigente. O problema são as consequências políticas, sendo por isso que o Governo de Putin se prontificou a dizer que este caso não iria afectar as relações entre os dois países. Mas, isso é o que se vai ver. Sobre esta matéria, o Diplomata sugere a leitura de Radioactive Legacy, um comentário publicado no The Guardian

Voltando ao "mau da fita", Andrei Lugovoi parece um autêntico James Bond. Sofisticado e charmoso, segundo o jornalista Rupert Wingfield-Hayes, correspondente da BBC em Moscovo, que esteve com Lugovoi em duas ocasiões. Da segunda vez que o encontrou foi numa bomba de gasolina por mera coincidência, mas da primeira vez, foi um encontro programado no seu escritório.

Foi nesta altura que Rupert Wingfield-Hayes ficou a conhecer melhor Andrei Lugovoi. De tal forma, que este chegou a convidá-lo para "dar uns tiros" no seu campo privado de treinos. O jornalista assistiu a uma demonstração "impressionante" de tiros ao alvo e habilidades, o que não faz dele "um assassino óbvio", referiu Rupert Wingfield-Hayes. Ao contrário do que tem sido veiculado pela imprensa, Lugovoi informou que nunca foi espião, apesar de ter pertencido à KGB, mas apenas como guarda-costas. Depois de ter saído dos serviços secretos continuou a trabalhar para o Estado e para altas personalidades russas, como Boris Berezovsky, anteriormente um dos aliados mais próximos de Putin, mas agora um dos seus ferozes detractores e suspeito de ter mandado matar Litvinenko. 

O mais estranho é que Berezovsky era próximo de Litvinenko, não fazendo assim muito sentido ordenar que Lugovoi o matasse. Além de que ambos eram críticos de Putin. Seja como for, várias são as teorias em cima de mesa, sendo que uma delas refere mesmo que Litvinenko e Lugovoi trabalhariam para os serviços secretos britânicos, tendo este último sido descoberto por Moscovo e obrigado a matar o seu alegado companheiro em Londres. Alexandre Guerra       

O regresso de Moqtada al-Sadr

Alexandre Guerra, 25.05.07

Moqtada al-Sadr, hoje em Kufa, Sul do Iraque  (Qasseim Zein/Agence France-Presse) 

A notícia do dia no Iraque foi o regresso aos palcos mediáticos de Moqtada al-Sadr. O clérigo xiita fez a sua aparição na cidade de Kufa, no sul do Iraque, perto de Najaf, o seu bastião. Durante um discurso numa mesquita local apinhada de fiéis, al-Sadr voltou a exigir a retirada das forças americanas do Iraque sem estabelecer, no entanto, qualquer calendarização. Isto deve-se ao facto de al-Sadr pretender ganhar tempo por forma a preparar o Exército Mahdi para ocupar o vazio de segurança que a retirada dos soldados americanos irá criar.

Ao contrário do que acontecia há uns meses, a força que o clérigo xiita comanda encontra-se actualmente bastante debilitada, resultado da ofensiva que as tropas americanas têm encetado desde Janeiro. Neste momento não é clara a estratégia de al-Sadr relativamente a Washington. A própria administração norte-americana tem dúvidas quanto aos intentos políticos do clérigo xiita (se é que os tem). Certa é a sua influência junto dos iraquianos xiitas. A grande questão é saber de que forma al-Sadr pretende utilizar essa mesma influência em seu benefício.

Uma das possibilidades é reverter em votos toda a popularidade que colhe na sociedade iraquiana. De certa forma, este cenário levaria à politização de al-Sadr, algo que até ao momento tem evitado. Este regresso público seria precisamente o primeiro passo de uma caminhada política com vista às eleições regionais do próximo ano. Por outro lado, al-Sadr poderá estar apenas a aproveitar este momento para ocupar espaço na liderança do campo xiita, uma vez que o seu principal rival, Abdul Aziz al-Hakim, líder do Conselho Supremo Islâmico Iraquiano, está nos Estados Unidos para tratamentos médicos. Alexandre Guerra

Uma ideia interessante

Alexandre Guerra, 25.05.07

 

Hoje de manhã, na Rádio Clube Português, Nuno Rogeiro teceu uma consideração oportuna sobre o futuro de Tony Blair. A poucas semanas de abandonar a liderança do Governo britânico, cargo que ocupou durante dez anos, Blair não terá ainda pensado (ou talvez sim) na sua vida pós-política doméstica.

Independendentemente das análises e juízos que se possam fazer quanto ao trabalho do agora ex-líder trabalhista, o Diplomata considera que Blair é um daqueles políticos que muito terão para dar na arena internacional depois da "reforma" da cena interna. Tem-se falado na possibilidade de "Tony" ser escolhido pelo amigo George W. Bush para ocupar a presidência do Banco Mundial, na sequência do afastamento de Paul Wolfowitz.

No entanto, o Diplomata não acredita que esta possibilidade seja a que mais se adeque a um político como Blair. É por isso que a observação de Nuno Rogeiro pareceu tão pertinente e, de certa forma, muito interessante: E se Blair pudesse vir a ocupar a presidência da Comissão Europeia? AG

PS: O Diplomata tem a certeza que tal possibilidade teria de imediato o apoio de Carlos Manuel Castro do Tugir  

Diplomacia à parte

Alexandre Guerra, 24.05.07

Afinal nem tudo o que o homem diz são disparates: O líder do Partido Nacional Renovador disse à jornalista Alberta Maques Fernandes na RTP 2 que se for eleito Presidente da Câmara de Lisboa  vai acabar com a EMEL. À conta desta medida programática, José Pinto Coelho é capaz de ter ganho uns votos. AG


 

Leituras

Alexandre Guerra, 23.05.07


Os interessados (e os muitos apaixonados, diga-se) pelos assuntos do Médio Oriente são "obrigados" a ler o comentário que Jonathan Freedland escreve hoje no The Guardian. The six-day war is not over. Today, it brings the spectre of al-Qaida in Gaza é um texto perspicaz e intelectualmente muito honesto.


 


Também sobre o Médio Oriente, em concreto sobre as políticas da administração de George W. Bush em relação ao Iraque, o The Guardian também publicou Bush may turn to UN in search for iraq solution. Em complemento, o Diplomata sugere o texto do Washington Post, New Strategy for War Stresses Iraqi Politics.


  

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