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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Lisbon International Club é hoje oficialmente apresentado

Alexandre Guerra, 31.03.07

O Lisbon International Club, "que pretende ser uma plataforma de conhecimento bem como de divulgação dos valores da paz e da cooperação entre povos e culturas", será hoje à noite oficialmente apresentado, durante uma cerimónia no Hotel Ritz que, sob o lema "Joining Cultures", juntará distintos membros do mundo empresarial, diplomático e político.


De acordo com as informações reveladas ao Diplomata pelo gabinete de imprensa, "o Lisbon International Club será um espaço de interacção entre todos os cidadãos e entidades nacionais e estrangeiras".


A primeira grande conferência já está agendada para o dia 9 de Maio, e terá como orador principal o presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues. Está igualmente prevista uma outra com o reputado António Damásio. O Lisbon International Club atribuirá também anualmente um prémio de excelência "à pessoa ou entidade que se destaque na sua actividade e personifique o espírito do clube". Estão igualmente previstas parcerias com organizações nacionais e internacionais "no âmbito de programas de acção, envolvimento em projectos sociais e apoio a instituições sociais e outras".


 

Leituras

Alexandre Guerra, 30.03.07

America's "Seinfeld" strategy in Iraque é um daqueles artigos que, de tempos a tempos, surgem nas páginas dos jornais (em Portugal é raríssimo, porque o humor jornalístico e político é algo praticamente inexistente, ao contário da tradição anglo-saxónica), e que demonstram que com uma grande dose de inspiração é sempre possível apresentar uma nova abordagem de temas aparentemente esgotados.


Assim, a propósito da intervenção norte-americana no Iraque, Michael Fulliove, investigador do Lowy Institute for International Policy, em Sidney, escreveu um texto para o Financial Times, no qual se auxilia de uma teoria dessa "grande personagem" chamada George Constanza para expor o seu caso (imagine-se o desespero de Fulliove para "dar ouvidos" àquela gente). A partir daqui, será excusado dizer mais qualquer coisa, porque certamente o leitor já se está a rir só de ouvir falar de tão caricata figura.   

Será uma luz (embora ténue) ao fundo do túnel?

Alexandre Guerra, 30.03.07

 

Há muito que não se via um líder judaico tão entusiasmado com um iniciativa política respeitante ao processo negocial israelo-palestiniano. O chefe de Governo hebraico, Ehud Olmert, considerou os resultados da Cimeira Árabe, reunida em Riade, uma "revolução" que, entre outras coisas, tenta reavivar o plano de 2002, que tinha sido rejeitado há cinco anos pelo Executivo de Israel.

Embora não concorde com todas as linhas escritas no documento final, como por exemplo, o direito de retorno dos refugiados palestinianos de 1948, Olmert congratulou-se com o facto deste novo plano abrir portas a um possível reconhecimento, por parte dos Estados árabes, de Israel.

Perante este gesto, importante na opinião do Diplomata, fica aqui o comunicado oficial do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita relativamente às conclusões da Cimeira Árabe:

“ Israel believes in peace, and seeks to establish peaceful and neighborly relations both with the Palestinian people and with all the states of the region.

Israel is sincerely interested in pursuing a dialogue with those Arab states that desire peace with Israel , this in order to promote a process of normalization and cooperation. Israel hopes that the Riyadh Summit will contribute to this effort.

Israel’s position with regard to the peace process with the Palestinians is founded upon fundamental principles, the most central of which is the existence of two nation-states, with each state addressing the national aspirations of its own people – Israel for the Jewish people and Palestine for the Palestinian people – and with both states coexisting in peace, free of the threat of terrorism and violence.

For this purpose, a direct dialogue between Israel and the Palestinians is necessary. Israel also believes that moderate Arab states can fill a positive role by encouraging regional cooperation, and supporting the Israel-Palestinian track. A dialogue between these states and Israel can contribute to this end.”

 

Leituras

Alexandre Guerra, 29.03.07

O balanço da visita do Presidente chinês, Hu Jintao, à Rússia, na qual foram celebrados vários acordos bilaterais nas áreas económica e comercial, energética, tecnológica e científica, é feito pelo People's Daily Online, que publica hoje um artigo de opinião, no qual é traçado todo o percurso de cooperação estratégica entre aqueles dois países, desde que foi assinado o primeiro tratado nesse sentido há dez anos. Vast space for Sino-Russian economic, trade ties merece uma leitura atenta para se compreender as potencialidades da actual parceria sino-russa.


The St. Petersburg Times considera que a energia é o grande assunto do momento, até porque a Rússia poderá ser "parte da solução" para o problema de abastecimento de petróleo à China, que em 2020 deverá atingir o consumo de 11 milhões de barris/dia. From Pipe Dream to Pipe Reality, escrito por dois especialistas do Russia and Caspian Service at Global Energy Consultancy PFC Energy, centra a análise das relações sino-russas na questão energética. Aborda ainda o tão ambicionado projecto do pipeline que ligará a Rússia à China. 


Ainda a propósito da visita de Hu Jintão à Rússia, os dois países acordaram na colaboração de uma missão conjunta a Marte. De acordo com a agência espacial chinesa citada pela BBC on Line, trata-se de um importante passo na cooperação espacial entre os dois países. Em Russia, China aim for Red Planet podem-se ler mais pormenores desta nova pareceria. 

Notas diplomáticas

Alexandre Guerra, 28.03.07

Jaime Nogueira Pinto, num texto  publicado hoje no Futuro Presente sobre o concurso da RTP "Os Grandes Portugueses", surpreende-se, a certa altura, com a "atitude de alguns académicos de esquerda (v.g. Fernando Rosas, Costa Pinto, etc), que nos seus trabalhos e estudos universitários têm uma certa distância e isenção sobre o período [1926-74], mas, nestes casos, ficam iguais aos 'antifascistas' primários".


Esta observação foi aqui citada pelo facto do Diplomata já ter referenciado este assunto numa prosa de 2 de Março, na qual é analisada a interessante coabitação de "duas pessoas no mesmo homem": Fernando Rosas, o historiador, e Fernando Rosas, o político. AG 

Bemba deverá chegar a Portugal no Sábado

Alexandre Guerra, 28.03.07

Jean Pierre Bemba, o principal líder da oposição na República Democrática do Congo (RDC), deverá deslocar-se a Portugal no próximo Sábado para tratamentos médicos. A notícia está a ser avançada pela BBC On Line, que cita um diplomata da África do Sul, depois de Bemba se ter refugiado na embaixada daquele país em Kinshasa. "O senhor Bemba pretende deslocar-se no Sábado a Portugal para tratar de uma perna", referiu Dumisani Kumalo, embaixador sul-africano nas Nações Unidas.


Mas, de acordo com as análises veiculadas, a viagem a Portugal deverá ter antes propósitos políticos, podendo mesmo ser uma espécie de exílio, atendendo às acusações que recaem sobre aquele dirigente, de tentativa de derrube do Presidente Joseph Kabila. Bemba, por outro lado, rejeita estas alegações e acusa o Exército congolês de o tentar matar. Nas últimas semanas, soldados e milícias leais a Bemba têm-se envolvido em confrontos que já provocaram mais de 600 mortos.


Caso se confirme a viagem do líder da oposição congolesa a Portugal, é provável que a sua estada se prolongue por vários dias, de modo a que seja encontrada uma solução para a actual crise interna que se vive no RDC. Ainda citando alguns observadores mencionados pela BBC, haverá mesmo a possibilidade de Bemba nem regressar ao seu país, caso consiga autorização de permanência em Portugal. AG

Salazar, Sócrates e sexo

Alexandre Guerra, 28.03.07

 

Nas últimas semanas, muito se falou e debateu sobre a personalidade e o estilo de dois líderes políticos portugueses. Um, foi presidente do Conselho de Ministros, o outro é o actual primeiro-ministro. Tanto falatório em torno destas duas figuras ficou-se a dever, sobretudo, a duas razões: relativamente a António de Oliveira Salazar, a RTP, através do programa Grandes Portugueses, fez questão de ressuscitar tão polémico dirigente político, enquanto que no caso de José Sócrates, o balanço dos dois anos de mandato (associado ao tom intransigente adoptado nalgumas matérias governativas) serviu de pretexto para inúmeras prosas na imprensa e na blogosfera.

Não houve comentador ou analista, académico ou jornalista que não se precipitasse para doutas reflexões sobre o carácter daqueles políticos. O Diplomata não pretende aqui repetir esse debate, nem fazer eco do mesmo. Porém, poderá sucintamente dar o seu modesto contributo, através de uma "leitura" de quem pertence a uma geração nascida depois do 25 de Abril, e para quem o Estado Novo é "apenas" um capítulo da História portuguesa que se lê e compreende, mas que não apaixona ou sensibiliza. 

Assim, escutando e lendo as opiniões de quem viveu duas realidades históricas e políticas foi possível encontrar um conceito comum entre Salazar e Sócrates no que concerne às suas figuras enquanto políticos: autoritarismo.

À primeira vista, isto é uma surpresa. Que o primeiro seja conotado como autoritário (note-se, não totalitário, e para quem tenha dúvidas sobre estes conceitos aconselha-se a consulta de qualquer manual de ciência política), é algo que dificilmente possa ser contestado, mas que Sócrates seja igualmente incluído, por muitos, nessa tristemente célebre categoria, ora aqui está algo de novo e estranho para uma democracia.   

Terá então Portugal novamente um líder autoritário? Atendendo a algumas medidas governativas tomadas nos últimos tempos, há quem diga que Sócrates caminha subtilmente nesse sentido. Caso isto seja verdade, presume-se que seja um autoritarismo mais sofisticado, mais ao estilo do século XXI... "simplex" e com muitas novas tecnologias. 

Mas, o que é mais estranho neste debate é que aquelas ilações são retiradas por pessoas que conheceram de perto um regime autoritário e o seu líder. O que conduz a duas possibilidades: Ou Sócrates reserva de facto uma predisposição para "tiques" anti-democráticos, ou então, o conceito "autoritário" tem sido utilizado levianamente, acabando, mais, por provocar ruído do que por esclarecer correctamente o público.

A juntar àquele conceito, o Diplomata avança com outro que, embora timidamente referenciado como intrínseco à personalidade dos políticos em questão, gerará talvez mais consenso quando aplicado a Salazar e a Sócrates: pragmatismo.

Aqui, não existem dúvidas de que Salazar e Sócrates partilham o pragmatismo como plataforma para os seus modelos de pensamento e governação. Mais do que a ideologia, o que importa são os resultados. Esquerda ou direita, pouco importa para governantes deste género. O lema é desconfiar de tudo e de todos e seguir o "instinto", mesmo que isso conduza ao desastre. O actual chefe do Governo tem dado alguns exemplos (Ota, encerramento dos SAP, SISI, etc).       

As fontes literárias são instrumentos imprescindíveis para se compreender realidades que não se viveram. Foi neste contexto que o Diplomata leu recentemente as "Máscaras de Salazar" de Fernando Dacosta (edição de 1998) e se deparou com testemunhos preciosos, que expõem à luz do dia a plenitude do pragmatismo de Salazar.

O carácter funcional que Salazar atribuía ao sexo e à prostituição que, refira-se era legalizada, é talvez o melhor exemplo. "O interesse pelo sexo faz diminuir o interesse pela política", terá confidenciado o presidente do Conselho. Esta frase, além de ser um registo histórico delicioso, suporta a ideia de que a política está acima da moral (seria interessante aprofundar-se a relação que aquele político tinha com a obra de Maquiavel), na óptica governativa de Salazar.

Nos dois capítulos da obra de Dacosta dedicados a esta temática, torna-se evidente que para o presidente do Conselho, o sexo e a prostituição não eram mais do que meios para poder executar as suas políticas, independentemente das repercussões morais que daí pudessem advir. Na perspectiva de Salazar, a moralidade não era para aqui chamada, apenas a ordem social interessava e a função do sexo enquanto parte de um sistema de Governo. Alexandre Guerra 

Martti Ahtissari insiste no erro

Alexandre Guerra, 27.03.07

Martti Ahtissari, enviado especial das Nações Unidas para o Kosovo, disse que a independência daquela região é a "única opção viável". O diplomata finlandês continua, assim, a defender a sua posição inicial, fortemente critica pela Sérvia e bem acolhida pela Albânia. O parlamento em Belgrado chegou mesmo a levar o assunto a votação, a qual se materializou num massivo "não" ao plano de independência do Kosovo proposto pelo enviado da ONU.


Também a Rússia já fez saber que irá apoiar Belgrado, defendendo o prolongamento das negociações entre sérvios e albaneses. Estes estiveram reunidos pela última vez em Viena a 10 de Março sem terem, porém, chegado a qualquer conclusão quanto ao futuro do Kosovo, que desde 1999 está sob administração das Nações Unidas e vigiado por uma força da NATO.


Apesar das contrariedades, Ahtissari mantém-se firme e escreveu no relatório que vai entregar no Conselho de Segurança, que "a independência é a única opção viável para um Kosovo estável política e economicamente". O Diplomata considera esta posição um erro e revela uma grande lacuna na análise que Ahtissari fez da situação.


Caberá agora ao Conselho de Segurança avaliar o relatório do enviado finlandês, sendo quase certo que a Rússia não irá aceitar facilmente este documento. Atendendo igualmente às precipitadas e ousadas recomendações de Ahtissari, é muito provável que o Conselho de Segurança opte por uma solução mais moderada. AG  

Leituras

Alexandre Guerra, 27.03.07

Seguindo o conselho do Bloguítica, o Diplomata leu o texto do reputado Niall Ferguson, publicado no Sunday Telegraph, a propósito dos 50 anos sobre o Tratado de Roma. Longe de ser um artigo denso e de contornos científicos, em EU unloved and mistrusted, even by french, Ferguson opta por um tom ligeiro, mas subtil, conseguindo transmitir sucintamente a sua opinião relativamente à evolução do projecto europeu.


Também por ocasião do 50º aniversário do Tratado de Roma, o Diplomata teve conhecimento, através do Kontratempos, do sítio Eurozine, uma rede de jornais e instituições europeias que vai republicando artigos, sobretudo de cariz cultural e político. Apesar da maioria dos textos ali consultados serem originalmente publicados há algum tempo, a qualidade de algumas prosas vale a pena a consulta. É o caso de A heavy prelude to chaos de Jesper Gulddal, um ensaio de grande qualidade e bem apoiado bibliograficamente, publicado inicialmente em dinamarquês no ano passado, e agora disponiblizado em inglês pela Eurozine.


Para quem se interessa pelas relações transatlânticas e pela forma que estas assumem, a leitura daquele texto é orbigatória, uma vez que tenta explicar o "anti-americanismo" europeu do século XX.  

Apesar de encontro histórico, prudência é a palavra de ordem no Ulster

Alexandre Guerra, 26.03.07

Ian Paisley e Gerry Adams, hoje, em Stormont                   Paul Faith/PA

Sentados pela primeira vez lado a lado em Stormont, num dia em que entra para a história da Irlanda do Norte, os antigos rivais políticos Ian Paisley e Gerry Adams acordaram hoje que o novo governo de unidade vai entrar em funções no próximo dia 8 de Maio.

De acordo com informações veiculadas pela imprensa, o líder dos unionistas protestantes (DUP) deverá assumir a chefia do Executivo regional, enquanto que Marin MacGuinness poderá ver-lhe atribuído o posto de vice-primeiro-ministro. Ao todo, o governo deverá ter quatro ministros do DUP, três do Sinn Fein, dois do UUP, um dos sociais democratas e um do Labour.

Para já, todas as partes envolvidas no processo mostram-se confiantes no futuro. Adams fala numa "nova era" e Paisley compromete-se em melhorar a vida de "todas as pessoas" daquela "parte do Reino Unido". Também os chefes dos Governos inglês e irlandês, Tony Blair e Bertie Ahern respectivamente, congratularam-se com o momento que se vive na Irlanda do Norte. 

No entanto, convém haver alguma prudência, porque DUP e Sinn Fein continuam com visões distintas quanto ao futuro do Ulster a médio a longo prazo. Os unionistas mantêm a ideia de integração com o Reino Unido, enquanto que os católicos do Sinn Fein defendem a união com a República da Irlanda. E quanto a estas divisões, parece não haver cedências de ambas as partes.

Para já, as clivagens ideológicas e políticas foram atenuadas pelo facto de Londres ter ameaçado com a suspensão definitiva do processo autonómico da Irlanda do Norte. E, assim sendo, por momentos, o DUP e o Sinn Fein tiveram que conciliar agendas para possibilitar a realização de eleições e, consequentemente, a reactivação da instituição parlamentar em Stormont, suspensa desde 2002. O próprio secretário britânico para a Irlanda do Norte, Peter Hain, tinha dito que o prazo que findava hoje era sólido e inflexível. 

Porém, resta agora saber qual será o conteúdo do programa de governo regional relativamente ao modelo de enquadramento da Irlanda do Norte face a Londres ou a Dublin. Será igualmente interessante acompanhar as relações inter-ministeriais dos diferentes partidos, após esta euforia se ter esvanecido. Ainda hoje, Malachi O'Doherty escreve no Guardian, que não obstante "o grande feito político", é "preciso desculpar ao povo de Belfast o facto de ainda não estar a saltar de contentamento".

Uma posição prudente e cautelosa de quem já assistiu a alguns "dias históricos" na Irlanda do Norte e que mais tarde desaguaram em frustração e fracasso. Alexandre Guerra

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