Manuel Castells na Gulbenkian
"A estrutura social da Era da Informação está ligada em rede através das tecnologias." Foi desta forma que o reputado sociológo catalão, Manuel Castells, iniciou uma conferência realizada esta manhã na Fundação Calouste Gulbenkian, por ocasião do lançamento de A Sociedade de Informação e o Estado Providência: O modelo finlandês, o mais recente livro daquele autor publicado em Portugal e que se junta à já clássica trilogia A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura e ao posterior e menos interessante Galáxia Internet. O Diplomata esteve presente.
Castells, tido como um dos "gurus" da sociologia na área de estudo das novas tecnologias, centrou parte da sua apresentação na questão da universalidade da rede e do impacto da mesma no modelo de organização de sociedade. Este, aliás, é um tema que o autor já escalpelizou com pormenor na sua trilogia, sendo que sobre esta matéria Castells não tenha avançado muita coisa nova. Porém, não deixa de ser particularmente interessante constatar a forma científica como o professor da Universidade da Califórnia expõe as suas ideias.
O pensamento de Castells assenta em dois princípios basilares, como o próprio afirmou: "O processo de informação passou a estar na base da organização de sociedade" e "a sociedade em rede difunde-se à escala global. Por definição, a rede é universal." Partindo deste patamar, e aqui talvez esteja uma evolução mais consistente no seu pensamento face à trilogia (datada nos anos 90), Castells não tem dúvidas de que nos dias de hoje já não existem muitas pessoas fora da rede. E deu o exemplo de várias pessoas em África utilizarem o mesmo telefone, tornado-se, assim, parte integrante da rede.
Apesar de não ser a única, a Internet surge como a principal tecnologia dessa rede global. As suas características permitem que sejam os próprios utilizadores a moldarem-na aos seus interesses. É por isso que Castells disse que "a Internet está condicionada ao enquadramento sociológico". Muitas das vezes, as pessoas criam utilizações que não foram previstas pelos programadores.
Castells afirma que a Internet tornou-se um "espaço social de interacção, de liberdade, de organização de espaços livres". Actualmente, a tendência é a "autocomunicação em massa", um conceito novo na obra de Castells e que é consubstanciada com fenómenos como o You Tube. Ou seja, "nós próprios, podemos transmitir para milhões".
A Nova Economia e o modelo finlandês
Quando a partir dos anos 90, "a Internet e outros sistemas de comunicação passam a ser um elemento chave no sistema empresarial" assiste-se a "um salto histórico na produtividade", com as respectivas mudanças de paradigmas tecnológicos, organizacionais, etc. É aqui, de acordo com Castells, que nasce a Nova Economia, baseada nas novas tecnologias e nos novos modelos de gestão.
Silicon Valey passa a ser uma referência na Nova Economia, no entanto, desprovida de qualquer componente social ou intervenção sindical. Na Europa, pelo contrário, vislumbou-se um desafio. Porque se nos Estados Unidos a sociedade civil e negócios convivem sem uma terceira parte, nos países europeus é obrigatório incluir-se o sector público nessa equação.
Por isso, a grande problemática das sociedades europeias é a "interacção entre a Nova Economia e a protecção social". A Finlândia surge, deste modo, como o modelo que melhor consegue combinar essas duas realidades. "Entre 1998 e 2005, a Finlândia esteve sempre nos primeiros lugares dos índices de competitividade mas, concomitantemente, foi sempre desenvolvendo o sistema de protecção social. O que não acontece no modelo de Silicon Valey."
É curioso constatar que 90 por cento dos trabalhadores finlandeses estão sindicalizados, porém, naquele país os sindicados não funcionam como força de bloqueio à produtividade. "Em Silicon Valey, por dogma, não há sindicatos."
Para Castells, o segredo reside na modernização do sector público. É vital o aproveitamento do sistema da rede de Internet e das novas tecnologias. O E-Governance, o E-Health e o E-Learning são precisamente conceitos que devem ser materializados nas sociedades europeias. "Estes três vectores são necessários para a transformação do sector público." Aliás, relembrou Castells, a Agenda de Lisboa tentou precisamente definir modelos de gestão com base nessa ideia. Alexandre Guerra