Países bálticos e os impérios totalitários: uma relação histórica diferenciada
Alexandre Guerra, 26.10.08
Talin, Estónia
Os encantos dos Estados bálticos são muitos, desde as suas cidades medievais ao verde das florestas que cobrem grande parte daqueles países, passando pelas águas calmas do Mar Báltico, apresentando-se como motivos suficientes para umas paragens por aqueles lados.
Os mais interessados na história contemporânea têm ainda mais argumentos para dispenderem algum tempo nas três pequenas repúblicas bálticas.
No Verão de 1991 obtiveram a sua independência, após a terem perdido durante a II Guerra Mundial, resultado da assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, que abriu caminho ao regime nazi para invadir a Polónia e à União Soviética para impor um modelo de "esferas de influência" na Letónia, Estónia e Lituânia.
Museu da Ocupação, Talin, Estónia
Este acabou por ser o momento mais dramático na história destes países nas quase últimas sete décadas, e que marcou indelevelmente a sua evolução enquanto nação e actor nas relações internacionais. Assim, não se estranha que a adesão à NATO, em Março de 2004, tenha sido vista como a verdadeira "libertação" e europeização, e não tanto a entrada na União Europeia em Maio do mesmo ano.
Por este motivo, é compreensível que a Embaixada americana em Riga tenha hasteada junto da sua bandeira uma outra da NATO.
Apesar dos três países bálticos terem também sido invadidos pelos alemães em 1941, tendo estes aliás aparecido em determinados círculos como "libertadores" dos opressores soviéticos, é a herança do regime estalinista que hoje em dia é mais presente naqueles Estados, seja através de alguns comportamentos do quotidiano, seja na abordagem que museus (os da Ocupação em Riga e Talin) e livros de história têm sobre os acontecimentos.
A presença dos soldados soviéticos durante a II Guerra Mundial nos territórios bálticos e a posterior influência de Moscovo através das estruturas do Partido Comunista deixou uma marca sangrenta e dramática na história social daqueles povos, tornando a invasão nazi (igualmente brutal) uma "nota de rodapé".
Construção soviética em Riga, Letónia
Esta situação poderá explicar-se sobretudo com dois factores: o primeiro está relacionado com o facto dos três países bálticos terem, de modo mais ou menos formal, alinhado com os soldados alemãos em 1941 nos combates contra a União Soviética e isso ter originado um processo de esbatimento histórico sobre a questão; o segundo factor está obviamente associado à influência que Moscovo teve, já que se prolongou durante décadas, o que não aconteceu com o regime nazi. Alexandre Guerra