Energia nuclear: um debate inevitável em Portugal?
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A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) está receptiva à discussão sobre a possibilidade de se instalar uma central nuclear em Portugal. Na quarta-feira (7-02-2007), o vice-presidente da ANMP, Ribau Esteves, referiu que vai levar este assunto à próxima reunião do Conselho Directivo, de modo a que aquela organização participe formalmente neste debate.
Esta notícia surgiu no mesmo dia em que um grupo de empresários, liderado por Sampaio Nunes e ligado a Patrick Monteiro de Barros, apresentou um pacote de potenciais benefícios fiscais para os municípios que decidam optar por este tipo de energia. Esta ideia foi sustentada com um estudo exaustivo que visa enfatizar a viabilidade técnica e financeira de um projecto deste género. Projecto esse que parece contar com o apoio do Centro de Fusão Nuclear.
Comissão Europeia dá luz verde
Quando recentemente o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, deu luz verde aos Estados-membros para que optassem pelo recurso à energia nuclear, caso fosse essa a sua vontade, estava assim dado um passo importante para a consolidação de algumas políticas energéticas nacionais que, nos últimos anos, privilegiaram a reactivação ou activação de programas nucleares visando a produção de energia eléctrica.
Em países como o Reino Unido e Finlândia essa é a política oficial, tendo, por exemplo, o secretário da Indústria britânico, Alistair Darling, apresentado na Câmara dos Comuns, em Julho do ano passado, o The Government’s Energy Review – a estratégia da política energética britânica para os próximos 40 anos –, na qual é expressa a vontade de se aprofundar o investimento numa nova geração de centrais nucleares. Actualmente, um quinto da electricidade britânica provém dos seus 19 reactores (www.british-energy.com). A Finlândia, através de uma resolução parlamentar datada de Maio de 2002, está a construir o seu quinto reactor nuclear, devendo estar concluído em 2009. Vinte e sete por cento da electricidade consumida é produzida pelos 4 reactores existentes. Em França, aproximadamente 75 por cento da electricidade consumida internamente vem de centrais nucleares, constituídas por 59 reactores geridos pela Electricite de France (EdF) (www.edf.fr).
A sua capacidade produtiva permite-lhe ainda exportar electricidade que, segundo os dados mais recentes, rende anualmente 3 mil milhões de euros aos cofres gauleses. Trata-se de um autêntico negócio, que aliás se verifica noutros países europeus como, por exemplo, na Bulgária.
Neste caso, o país está munido apenas com uma central em Kozloduy, embora seja uma das maiores do mundo (www.kznpp.org) com seis reactores (o que é raro). Porém, só dois estão a funcionar (com 1000 MW cada), sendo responsáveis por cerca de 40 por cento da electricidade consumida naquele país. A Bulgária consegue ainda exportar electricidade para os vizinhos balcânicos. Cerca de 75 por cento da população daquele país apoia este tipo de fonte energética. Está prevista ainda a construção de uma nova central com 4 ou 6 unidades na localidade de Belene, devendo estar concluída em 2013.
Voltando ao caso francês, a decisão do Governo tomada em 1974 após o primeiro choque petrolífero, permitiu ao país ter hoje um alto grau de independência energética, com um dos custos de electricidade mais baixos da Europa.
China, EUA, Índia, Brasil, todos apostam no nuclear
Ainda no último discurso do Estado da União, o Presidente George W. Bush sublinhou a sua aposta na energia nuclear, à semelhança do que se passa na China, na Índia, no Brasil ou na Rússia – tendo em conta os problemas ambientais verificados em países de economias emergentes, a energia nuclear poderá ser uma solução viável para substituir os chamados combustíveis fósseis e outro tipo de fontes energéticas altamente prejudiciais ao meio ambiente (veja-se o caso da Barragem das Três Gargantas na China).
O debate relativamente à energia nuclear não é estanque e muito certamente voltará a estar na ordem do dia na política nacional. Sendo possível apresentarem-se argumentos que, por um lado, sustentem o recurso a este tipo de energia e, por outro, tornem menos apetecível aquela tecnologia, chega-se a uma conclusão: O nuclear não é “a” solução, mas poderá ser parte dela. E deverá ser a partir deste pressuposto que o Governo liderado por José Sócrates lance o debate sobre a política energética para as décadas vindouras. Com as tecnologias actuais, não se consegue gerar uma solução perfeita no que respeita às políticas energéticas. Mesmo as energias renováveis apresentam contrariedades, nomeadamente em termos ambientais.
Assim, energia limpa, barata e segura é ainda um sonho, mas que começa a ter contornos reais no projecto ITER. Um tema ao qual o Diplomata dedicará, em breve, algumas linhas.
Alexandre Guerra