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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Putin adopta novo tom a pensar no sucessor

Alexandre Guerra, 12.02.07

 


 


O discurso proferido no sábado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, na 43º conferência de Política de Segurança de Munique, tem provocado inúmeros ecos na imprensa internacional, especialmente em Moscovo e Washington, onde analistas e "opinion makers" têm tentado interpretar o alcance das palavras do chefe do Kremlin. Estas foram igualmente recebidas com apreensão por parte da administração norte-americana que, embora reagindo cautelosamente, não deixou de referir, através do seu secretário de Defesa Robert Gates, que "uma guerra fria já foi o suficiente". Um claro aviso a Moscovo para não embarcar em aventuras políticas e diplomáticas que possam colocar em causa a relativa estabilidade do actual sistema internacional, nomeadamente no que diz respeito às relações entre os dois países.


Efectivamente, numa tentativa de aligeirar o impacto das declarações de Putin, Washington apressou-se a realçar a importância da parceria política entre a Rússia e a Aliança (materializada no Conselho Rússia/NATO) como factor de estabilidade nas relações internacionais. O próprio Gates sublinhou o facto da Rússia ser um "parceiro". A Casa Branca tentou, deste modo, evitar que se criasse uma crise diplomática entre Moscovo e Washington, sobretudo numa altura em que os Estados Unidos já anunciaram que pretendem instalar mísseis na Polónia e na República Checa, como parte do seu sistema mundial anti-míssil.


Apesar do ministro da Defesa russo, Sergei Ivanov, ter negado uma lógica de provocação ou confrontação no discurso de Putin, a verdade é que segundo um artigo assinado por Thom Shanker no New York Times, "líderes governamentais, legisladores e responsáveis militares [americanos] continuam a especular" sobre as motivações de Putin. Também em Moscovo, a imprensa tem dedicado muitas linhas a escalpelizar os intentos do Presidente russo.


Analistas citados pelo The Moscow Times referem que Putin está a moldar a sua política externa. "Com este discurso, Putin começou o processo para moldar o seu legado", disse àquele jornal, Fyodor Lukanov, editor da publicação Russia in Global Affairs. Também Andrew Kuchins, director do departamento da Rússia e Euroásia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, considera que Putin está a preparar terreno para o seu sucessor.


Mas, a questão não estará tanto no conteúdo, mas sim no estilo. Se não, repare-se: O que Putin disse no sábado além de não ser novidade até é sustentado por factos, muitos deles evidentes. Neste ponto os analistas parecem estar de acordo. A grande diferença, como sublinha o editorial do The Moscow Times, está precisamente na forma como Putin colocou as suas ideias. "O que diferiu no discurso de sábado foi a natureza do ataque", lê-se.


Efectivamente, o tom "soft" que tem dominado o discurso entre Putin e o seu homólogo americano nos últimos anos parece ter sido arredado de cena. Resta agora saber duas coisas: Se o Presidente russo manterá este registo agressivo no seu discurso, e como reagirá Bush perante esta possibilidade. Alexandre Guerra