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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Timor Leste e o lamento da sua criação

Alexandre Guerra, 27.11.08





O autor destas linhas admite alguma surpresa por este súbito despertar de consciências para a triste e lamentável realidade timorense. Na Terça-feira, no Público, Pedro Rosa Mendes escrevia um texto nas páginas de destaque do jornal, que pouco ou nada revelava de novo para quem acompanha a questão timorense com alguma atenção.



Mais enriquecedor é o texto publicado ontem no mesmo jornal por Loro Horta, investigador no Center for International Security Studies (Universidade de Sydney). Este sim, com alguns dados interessantes e reveladores da debilidade do Estado timorense. 



Seja como for, não deixa de ser estranho este súbito movimento de "chamada" à realidade, liderado pelo Público, como se de um momento para o outro se tivesse descoberto uma "verdade" que ainda ninguém tinha constatado.



Hoje, de pouco vale apontar culpados em todo processo que conduziu à independência de Timor Leste, mas é preciso ter a consciência que os houve. E, talvez Portugal tenha, sob o efeito de uma onda eufórica de solidariedade, sido o principal responsável por tal desaire. 



E quando se fala em Portugal, está-se a falar da liderança política e de partidos, da comunicação social (incluindo o Público), dos movimentos cívicos, de líderes de opinião, de artistas e intelectuais, dos cidadãos em geral, que numa lógica altruísta se deixaram levar pelas emoções, perdendo a noção dos contornos realistas que regem as relações internacionais no que diz respeito à criação e ao reconhecimento de novos actores no sistema internacional. 



Timor Leste, à semelhança de outras ficções que têm surgido nos útlimos anos, não tinha condições para se tornar um Estado independente viável. Houve quem o dissesse e escrevesse na altura, sobretudo pessoas atentas ao processo e conhecedoras da realidade local, mas a diâmica impunha uma solução que quase todos desejavam e que apenas alguns temiam. De fora ficava ficava a possibilidade de se discutir um modelo intermédio do tipo federal entre Timor Leste e a Indonésia, que bem poderia ter sido mais benéfico para o futuro daquele pequeno país. 



Em várias conversas com uma pessoa que esteve envolvida na assistência à Administração Transitória de Timor Leste da ONU (UNTAET) logo a seguir ao referendo de 30 de Agosto de 1999, o Diplomata recorda os esquemas que imperavam em Díli no seio da missão das Nações Unidas e nos quais os futuros líderes políticos do país não se coibiam de participar. 



Desde um casino privado em casa de um alto responsável da ONU a contentores que vinham praticamente vazios com alguns produtos para servir o aparelho que começava a instalar-se em Timor, todo o tipo de negócios se fazia. Escusado será dizer que tais operações representavam custos enormes para o orçamento da missão da ONU. 



Também os negócios de pick-ups, muito na moda, existiam em Díli, importando-se aos países vizinhos a stands "amigos", não se olhando aos melhores preços, mas sim a conveniências. Isto aconteceu ainda antes da independência, que se realizou a 20 de Maio de 2002, mas já envolvia a então cúpula de poder em Díli. 



No período a seguir à independência, já sob a Missão das Nações Unidas de Apoio a Timor Leste (Unmiset), percebia-se claramente que o 191º membro da ONU não tinha condições para existir enquanto nação independente "de facto". 



Numa outra conversa com uma das primeiras pessoas a realizar um projecto de responsabilidade social em Timor Leste, os relatos eram esclarecedores quanto à debilidade daquele território, percebendo-se que um erro de contornos históricos tinha sido cometido sem que se pudesse voltar atrás. Alexandre Guerra