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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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A herança de George W. Bush*

Alexandre Guerra, 27.11.08







"Por esta altura, os americanos já elegeram um novo Presidente, atirando para a História dois mandatos liderados por George W. Bush. Como é habitual nestes momentos, é inevitável fugir a um balanço político, mesmo correndo-se o risco de tal exercício estar a ser feito muito em cima dos acontecimentos, algo que poderá deturpar a avaliação de oito anos de Administração.





Seja como for, ao fazer-se uma leitura geral dos últimos anos, o balanço é negativo. Washington não ratificou Quioto; a América sofreu o maior atentado terrorista de sempre nas suas fronteiras, ceifando mais de 3 mil vidas; os Estados Unidos envolveram-se em duas guerras que, até ao momento, já mataram cerca de 4800 soldados americanos e feriram mais de 30 mil; as autoridades activaram a prisão de Guantánamo, torturaram presos, violaram direitos fundamentais e espiaram os próprios americanos; as autoridades do país não souberam responder ao furacão Katrina, que expôs de forma dramática as fragilidades da América perante todo o mundo; o Tesouro mergulhou num défice brutal que atinge os 500 mil milhões de dólares e com um dívida nacional histórica de quase 10 triliões; e a imagem dos Estados Unidos no mundo atingiu mínimos preocupantes.




Para finalizar, rebentou uma crise financeira em Wall Street que, segundo os especialistas, é apenas comparável ao grande “crash” de 29. Consequências imediatas?




A falência e a nacionalização de bancos, o despedimento de milhares de pessoas, o congelamento dos empréstimos

interbancários e a injecção no sistema financeiro de 700 mil milhões de dólares.




Mas, mais importante, acabou-se o mito americano de que o mercado está entregue a si próprio. À boa maneira europeia, foi o próprio Bush que veio solicitar ao Congresso a intervenção do Estado nesse mesmo mercado. Algo impensável até há bem pouco tempo. Para os críticos de Bush mais ferozes, esta é a oportunidade para o culparem da morte do “capitalismo moderno”.




Não será intelectualmente honesto imputar às administrações de George W. Bush a responsabildiade de tudo o que foi acima descrito, mas não será muito arriscado afirmar que a maior parte dos casos foram potenciados pela própria Casa Branca, quer por sua iniciativa ou por sua omissão e inacção.




Neste momento, por mais ângulos de análise que se opte, George W. Bush deuxa uma herança pesada ao seu sucessor. Deixa uma América mais enfraquecida do que aquela que recebeu em 2001. Mas quem sabe, a História venha a ser um dia mais benevolente em relação ao papel de Bush na presidência americana." Alexandre Guerra



*Texto publicado na edição de Novembro da revista CAIS