Apesar de encontro histórico, prudência é a palavra de ordem no Ulster
Ian Paisley e Gerry Adams, hoje, em Stormont Paul Faith/PA
Sentados pela primeira vez lado a lado em Stormont, num dia em que entra para a história da Irlanda do Norte, os antigos rivais políticos Ian Paisley e Gerry Adams acordaram hoje que o novo governo de unidade vai entrar em funções no próximo dia 8 de Maio.
De acordo com informações veiculadas pela imprensa, o líder dos unionistas protestantes (DUP) deverá assumir a chefia do Executivo regional, enquanto que Marin MacGuinness poderá ver-lhe atribuído o posto de vice-primeiro-ministro. Ao todo, o governo deverá ter quatro ministros do DUP, três do Sinn Fein, dois do UUP, um dos sociais democratas e um do Labour.
Para já, todas as partes envolvidas no processo mostram-se confiantes no futuro. Adams fala numa "nova era" e Paisley compromete-se em melhorar a vida de "todas as pessoas" daquela "parte do Reino Unido". Também os chefes dos Governos inglês e irlandês, Tony Blair e Bertie Ahern respectivamente, congratularam-se com o momento que se vive na Irlanda do Norte.
No entanto, convém haver alguma prudência, porque DUP e Sinn Fein continuam com visões distintas quanto ao futuro do Ulster a médio a longo prazo. Os unionistas mantêm a ideia de integração com o Reino Unido, enquanto que os católicos do Sinn Fein defendem a união com a República da Irlanda. E quanto a estas divisões, parece não haver cedências de ambas as partes.
Para já, as clivagens ideológicas e políticas foram atenuadas pelo facto de Londres ter ameaçado com a suspensão definitiva do processo autonómico da Irlanda do Norte. E, assim sendo, por momentos, o DUP e o Sinn Fein tiveram que conciliar agendas para possibilitar a realização de eleições e, consequentemente, a reactivação da instituição parlamentar em Stormont, suspensa desde 2002. O próprio secretário britânico para a Irlanda do Norte, Peter Hain, tinha dito que o prazo que findava hoje era sólido e inflexível.
Porém, resta agora saber qual será o conteúdo do programa de governo regional relativamente ao modelo de enquadramento da Irlanda do Norte face a Londres ou a Dublin. Será igualmente interessante acompanhar as relações inter-ministeriais dos diferentes partidos, após esta euforia se ter esvanecido. Ainda hoje, Malachi O'Doherty escreve no Guardian, que não obstante "o grande feito político", é "preciso desculpar ao povo de Belfast o facto de ainda não estar a saltar de contentamento".
Uma posição prudente e cautelosa de quem já assistiu a alguns "dias históricos" na Irlanda do Norte e que mais tarde desaguaram em frustração e fracasso. Alexandre Guerra