Vá-se lá compreender a democracia timorense
Se os processos eleitorais que se verificaram em Timor Leste nos últimos meses tinham como principal objectivo estabilizar a cena política naquele pequeno Estado e estancar a crise espoletada no ano passado, então é de difícil compreensão o facto de o partido mais votado nas legislativas de 30 de Junho, com cerca de 30 por cento dos votos, ter ficado de fora dos principais órgãos de soberania.
É verdade que o recém-eleito Presidente Ramos Horta não está obrigado a convidar a Fretilin a formar Governo (mesmo que tenha sido o partido mais votado nas eleições), e por isso optou por uma solução de coligação de vários partidos, entre os quais o CNRT de Xanana Gusmão, para liderar os desígnios do país. No entanto, aconselha o bom-senso que nestas coisas da política e da democracia é preciso dar voz aos partidos nos quais votou uma parte considerável do eleitorado.
Neste caso, já que a Fretilin não vai assumir o Executivo, seria mais do que razoável que alguém daquele partido fosse eleito para presidente do Parlamento de Timor Leste, numa lógica de partilha de poder em que permitisse uma saída airosa para o partido de Francisco Guterres. Mas, efectivamente, quem vai ocupar aquele cargo é Fernando "Lasama" de Araújo, líder do Partido Democrático (PD), da Aliança com Maioria Parlamentar, a tal coligação anti-Fretilin e que reúne quatro partidos (CNRT, PSD, ASDT e PD).
Em reação à eleição de "Lasama", partidários da Fretilin já se manifestaram violentamente nas ruas de Díli, segundo a agência Reuters citada pelo Público. Não é certamente um bom começo para uma nova era que se quer de estabilidade e de reconciliação política. AG