Costa descura Câmara e aposta nas freguesias (apenas uma teoria sobre poder local)
A composição do novo executivo da Câmara de Lisboa gerou alguma perplexidade ao autor destas linhas. Não tanto por causa do acordo entre António Costa e Sá Fernandes, mas sim pela inexistência de uma coligação que permitisse ao PS ter maioria em 17 vereadores. Mas ontem, depois de uma conversa com a vereadora independente Helena Roseta, o Diplomata poderá ter encontrado a explicação que almejava.
Actualmente, a fórmula de António Costa resume-se a 6+1, ou seja, o vereador do Bloco de Esquerda não é garante de aprovação prévia de qualquer proposta que seja votada em reunião de Câmara. Perante isto, seria lógico que António Costa tentasse cativar os dois vereadores independentes do movimento de cidadãos eleitores Cidadãos Por Lisboa. Assim, conseguiria a importante maioria, facilitando-lhe a tarefa para os próximos dois anos. Porém, o novo líder da Câmara não só não fez grande esforço para alcançar essa solução, como desprezou a disponibilidade manifestada por Helena Roseta.
Embora a possibilidade de acordo ainda tivesse sido abordada, a verdade é que Helena Roseta não gostou da forma como as coisas lhe foram apresentadas: colocar a assinatura num papel sem que fossem debatidas quaisquer ideias ou projectos. Como a mesma referiu ao Diplomata, tal situação era inaceitável, até porque Costa não estava disposto a dar qualquer pasta a Roseta, oferecendo-lhe antes um lugar numa empresa municipal. O que recusou e que até chegou a considerar ofensivo, disse.
Seja como for, tudo isto dificulta a tarefa do novo edil até 2009. E relembre-se que neste espaço de tempo convém apresentar trabalho e, sobretudo, não provocar problemas no seio da Câmara. Mas, sendo António Costa um político hábil por que razão é que não se empenhou com veemência numa solução governativa que lhe fosse mais favorável?
Ontem, Helena Roseta apresentou ao Diplomata uma teoria interesssante. Costa poderá dar-se ao luxo de descurar na Câmara se reforçar o diálogo e as relações com as várias freguesias de Lisboa e desse processo retirar dividendos políticos nas autárquicas de 2009. E é isto que Helena Roseta pensa que António Costa quer fazer.
Assim, talvez não seja por acaso que o edil nomeou Marcos Perestrello para responsável da ligação entre a Câmara e as Juntas de Freguesia. Convém dizer que Marcos Perestrello, além de ser um homem de confiança de Costa, tem sido um dos responsáveis pelas campanhas do PS e é conhecedor do aparelho.
Perestrello detém o Departamento da Segurança Rodoviária e Tráfego, a Direcção Municipal de Ambiente Urbano, a Direcção Municipal de Projectos e Obras, o Departamento de Abastecimentos, o Departamento de Desporto Social e a Direcção Municipal de Acção Social, Educação e Desporto. Sob a sua dependência estão também a EMEL e a EMARLIS. Além disso, é ainda responsável pela ligação com a SIMTEJO, a VALORSUL e o MARL. Por tudo isto, Perestrello é conhecido como "super-vereador". Alexandre Guerra