Núbios acusam Governo sudanês de querer inundar a sua "civilização"
Caroly Cole/LAT
Não são africanos nem são árabes, são núbios, uma das mais antigas civilizações africanas. É desta forma que os autóctones da Núbia - região que se divide entre o Norte do Sudão e o Sul do Egipto - se consideram.
Na excelente reportagem do jornalista Edmund Sanders do Los Angeles Times fica-se a saber que a Núbia vive momentos conturbados, ameaçando tornar-se no terceiro foco de conflito interno no Sudão - o primeiro foi no Sul, que se prolongou por mais de 20 anos, e o segundo a Oeste, na região de Darfur, que eclodiu em 2003 e ainda se mantém.
Na origem do descontentamento dos núbios está a mesma razão que esteve por detrás dos outros dois conflitos referidos: discriminação e marginalização das gentes locais por parte do Governo central, dominado por uma elite muçulmana.
Carolyn Cole/LAT
A conjuntura agudizou-se em Junho, quando os soldados abriram fogo sobre uma manifestação anti-governamental de 5000 pessoas, matando quatro e ferindo 12. Um acontecimento que passou ao lado da imprensa internacional.
A partir deste incidente criaram-se as condições para a emergência de um grupo rebelde, Kush Liberation Front, que tem como objectivo a luta armada contra as autoridades de Cartum. Os membros daquele movimento acusam o Governo de opressão étnica e cultural e de estar a utilizar os recursos naturais daquela região sem ter em conta os interesses dos núbios.
Uma das medidas prende-se com a intenção do Executivo de construir duas ou três barragens para produção de electricidade numa zona do rio Nilo, precisamente no centro da Núbia. Obras desta envergadura obrigam necessariamente à deslocação de vilas inteiras e à destruição de alguns locais de importante valor arqueológico. "Eles querem-nos separar das nossas raízes e inundar a Núbia e toda a sua história", disse ao jornalista do Los Angeles Times, Sharif Adeen Ali, de 53 anos, um agricultor da aldeia de Sebu. Alexandre Guerra