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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Rússia, uma longa história de autoritarismo

Alexandre Guerra, 19.03.18

 

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Foto: Kremlin Press Service 

 

A Rússia, já nos tempos da sua formação enquanto reino, sempre foi uma região muito especial no que à dinâmica entre governantes e governados dizia respeito. Para quem conhece e segue a história das lideranças russas, constatará uma tendência crónica para o autoritarismo (já para não falar em totalitarismo, nalguns períodos). É uma evidência histórica contra a qual nada há a fazer, apesar das ilusões que muitos ainda alimentam de que a democracia ocidental prevalecerá sobre todos os outros modelos de governação. Para já, pelo menos, isso não vai acontecer e o que se passou nalguns países assolados pela "Primavera Árabe" é um exemplo de que o anúncio da vitória da democracia liberal sobre todas as demais formas de Governo foi manifestamente exagerado. Ou seja, perante a oportunidade de opção, a democracia não tem sido suficientemente cativante para parte substancial dessas sociedades. Noutros países, é mesmo a maioria dos cidadãos que nem sequer considera os valores e princípios democráticos como algo essencial nas suas vidas. É como se fosse algo genético, a aceitação pelo povo de estilos mais autoritários dos seus governantes. A Rússia é, hoje, talvez o melhor exemplo dessa forma de estar. E ao contrário de países como a Coreia do Norte – ou até mesmo a Bielorrússia e a China –, no caso da Rússia já não se pode utilizar o argumento de que a população não tem acesso à informação independente ou que a liberdade de opinião está totalmente estrangulada – embora ao nível da crítica política esteja muito restrita, como têm sido exemplares nos últimos anos, alguns casos de pressão ou de perseguição política. 

 

Na Rússia, há claramente uma opção consciente por um estilo de governação e de liderança mais musculada. Os russos sempre aceitaram bem líderes autoritários, mas nunca foram particularmente entusiastas com governantes mais ocidentalizados, tais como Mikhail Gorbachev – por muitos russos, considerado um traidor – ou Boris Yeltsin – que por outros nunca foi levado muito a sério. A chegada de um homem como Vladimir Putin ao Kremlin foi vista pelos russos como o regresso dos gloriosos líderes dos tempos do império soviético. Hoje, quando a Rússia está diplomaticamente mais isolada, quando atravessa economicamente momentos muito complicados, quando tem milhares de soldados “plantados” nalguns conflitos fronteiriços (alguns "congelados", outros mais "quentes"),Vladimir Putin consegue ter um nível de popularidade genuinamento alto. Mesmo admitindo que os resultados das eleições de Domingo possam estar inflacionados, Putin goza de um enorme apoio popular, como, aliás, sempre gozou. 

 

É importante notar que os russos nunca experimentaram outro tipo de regime e jamais se abriram aos seus vizinhos europeus. Esta vivência foi acumulando um pessimismo reinante, ensombrando qualquer perspectiva sobre o futuro da sociedade. Uma realidade que se tornou particularmente evidente nos anos de Boris Yeltsin, na ressaca da queda do império e na emergência de um clima de anarquia e caos. De um momento para o outro, os russos viam-se sem a tradicional liderança forte e absoluta, assistindo à deterioração do império e de toda a estrutura social sem compensações evidentes. Democracia e liberdade, tal como os ocidentais as entendem, são conceitos estranhos àquela sociedade. Há sensivelmente 13 anos, Richard Pipes, hoje com 94 anos, conceituado especialista da história russa e antigo director do departamento de assuntos soviéticos da Europa de Leste no Conselho de Segurança Nacional em 1981-82, escrevia um extraordinário artigo na “Foreign Affairs”, especificando o que de facto os russos queriam para a sua sociedade. Uma das ideias-chave defendidas pelo autor referia que os russos apoiavam o estilo “antiliberdade e antidemocrático” de Putin, sustentando, com estudos de opinião, que apenas um em cada dez russos se interessava por “liberdades democráticas e direitos civis”. Na verdade, estes e outros conceitos, como propriedade privada e justiça pública, nunca fizeram parte da tradição russa. Por exemplo, apenas cerca de um quarto da população russa considerava que a propriedade privada era importante como direito humano. Isto apenas há 13 anos, note-se.

 

Pipes sustentava as suas afirmações em estudos levados a cabo pelo All-Russian Center for Study of Public Opinion e pelo Institute of Complex Social Studies da Academia de Ciências Russa. De acordo com os dados obtidos na altura, 78 por cento dos russos considerava que a “democracia era uma fachada para um governo controlado pelos ricos e grupos poderosos". Apenas 22 por cento expressava preferência pela democracia, contra os 53 por cento que se lhe opunham. Sobre os eventuais benefícios das eleições multipartidárias, 52 por cento dos russos considerava que estas eram prejudiciais, sendo apenas 15 por cento a percentagem de russos que as viam como positivas. Numa outra sondagem da mesma altura, do Centro de Estudos Sociológicos da Universidade de Moscovo, citada por Pipes, 82 por cento dos russos estavam convictos de que não tinham qualquer influência no Governo nacional, e 78 por cento acrescentava mesmo que não influenciava os desígnios do governo local. Mais interessante, mas pouco surpreendente, era a escolha feita entre “liberdade” e “ordem”. Oitenta e oito por cento dos inquiridos na província de Voronezh manifestaram preferência pela “ordem”. Apenas 11 por cento afirmaram não estar dispostos a abdicar das suas liberdades de expressão e de imprensa em troca de estabilidade. Na verdade, um outro estudo, conduzido no Inverno de 2003-04, pela Romir Monitoring, sustentava que 76 por cento dos russos eram favoráveis à reposição da censura nos “media”.

 

Estes números reflectiam uma avidez, por parte do povo russo, de autoritarismo governativo. Uma exigência apreendida pelos políticos que, segundo Pipes, se manifestou nas eleições para a Duma, em Dezembro de 2003, nas quais nenhum dos partidos mais votados utilizou, sequer por uma vez, a palavra “liberdade”. Um dos outros anseios do povo russo prendia-se com o poder da sua nação, sendo que 78 por cento insistia que a Rússia tinha de ser “uma grande potência”. A questão é saber se, 13 anos depois destas observações feitas por Pipes, a percepção do povo russo em relação aos seus líderes e ao modelo de governação se alterou? A julgar por aquilo que se vai vendo, lendo, e pelos vários estudos de opinião que se vão conhecendo, provavelmente, não terá mudado assim tanto. Trata-se de um território imenso que, desde o século XIX, tem tentado manter o estatuto de potência entre as potências. Na altura em que tentava expandir a sua presença sobre a Sublime Porta e os Balcãs, a Rússia era tida como “instável e intrometida” nos interesses que se jogavam no Velho Continente. Os líderes europeus olhavam-na com desconfiança, tentando ler à luz da “realpolitik” o comportamento de Moscovo, tal como hoje, os interlocutores de Putin, desprovidos de qualquer abordagem idealista, terão de compreender os intentos e as sensibilidades do homem forte do Kremlin. Já o famoso Metternich, chanceler do império austro-húngaro, dizia que “o problema posto pela Rússia não era tanto o de como conter a sua agressividade, mas o de como temperar as suas ambições”.

 

Texto adaptado de um artigo de opinião publicado no PÚBLICO a 7 de Março de 2015

 

2017, o ano do renascimento do Czar Putin

Alexandre Guerra, 02.01.17

 

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A eleição de Donald Trump veio colocar Vladimir Putin numa posição de enorme relevância no sistema internacional, talvez como nunca tenha tido antes, porque, pela primeira vez, tem em Washington um interlocutor que lhe parece reconhecer o seu poder czarista e autoritário sem qualquer constrangimento ou julgamento moral. Mais, Trump parece estar disposto a aceitar e a respeitar as regras do jogo definidas por Putin, naquilo que poderá ser um paradigma com algumas semelhanças ao sistema de Guerra Fria em matéria de delimitação de zonas de influência. Perante isto, e à luz daquilo que se tem vindo a saber, é muito provável que Putin venha novamente a estar num plano de igualdade com o seu homólogo norte-americano. Trump parece querer conceder-lhe esse privilégio, já que não o deverá fazer a mais nenhum chefe de Estado. Além disso, do que se vai percebendo, Trump acreditará que o mundo pode ser gerido novamente pelas duas potências, numa divisão de influências, onde a China e outros Estados emergentes não lhe merecem grande atenção (quantas vezes ouvimos Trump falar do Brasil, da Índia ou até mesmo do Reino Unido ou da Alemanha???). Hoje, mais do que nunca, é importante perceber quem é Putin, como pensa e como age.

Acompanho com atenção o percurso de Vladimir Putin ainda antes de ter sido eleito Presidente da Rússia pela primeira vez em 2000. Quando a 9 de Agosto de 1999 o então já falecido Presidente Boris Yeltsin demitia o seu Governo e apresentava ao mundo uma nova figura na vida política russa, poucos eram aqueles que conheciam Vladimir Putin. Aos 46 anos, Putin, ligado ao círculo de São Petersburgo, e antigo oficial do KGB (serviços secretos), assumia a chefia do novo Executivo, com a motivação manifestada por Yeltsin de que gostaria de vê-lo como seu sucessor nas eleições presidenciais de 2000. Segundo alguns registos, Putin nunca terá tido a intenção de seguir uma carreira política, no entanto, teve sempre um alto sentido de servidão ao Estado, como aliás fica bem evidente na recente biografia de Steven Lee Myers, "O Novo Cazar" (2015, Edições 70). Na altura, terá confessado que jamais tinha pensado no Kremlin, mas outros valores se erguiam: “We are military men, and we will implement the decision that has been made”, disse Putin. Muitos viram na decisão de Yeltsin o corolário de uma carreira recheada de erros e que conduzira o país a um estado de sítio. A ascensão de Putin era vista como mais um erro. Citado pelo The Moscow Times, Boris Nemtsov, na altura um dos líderes do bloco dos "jovens reformistas" na Duma e que viria a ser assassinado em Fevereiro de 2015, disse que Putin causou uma fraca impressão na primeira intervenção naquela câmara. "Não era carismático. Era fraco." Também ao mesmo jornal, Nikolai Petrov, do Carnegie Moscow Center, relembrava que Putin deixou uma "patética imagem", sendo um desconhecido dos grandes círculos políticos, e que demonstrava ter pouco à vontade com aparições públicas, chegando mesmo a ter alguns comportamentos provincianos.

Apesar disso, a Duma acabaria por aprovar a sua nomeação para a liderança do Governo, embora por uma margem mínima. É preciso não esquecer que Putin reunia apoio nalguns sectores, nomeadamente naqueles ligados aos serviços de segurança, que o viam como um homem inteligente e com grandes qualidades pessoais. E, efectivamente, após ter assumido os desígnios do Governo, Putin começou de imediato a colmatar algumas das suas falhas, nomeadamente ao nível de comunicação, e a desenvolver capacidades que se viriam a revelar fundamentais na sua vida política. É o próprio Nemtsov que reconheceu o facto de Putin se ter tornado mais agressivo e carismático, dando às pessoas a imagem do governante que os russos prezam. Características que se encaixaram na perfeição ao estilo musculado necessário para responder às explosões que ocorreram em blocos de apartamentos de três cidades russas, incluindo Moscovo, em Setembro de 1999, vitimando sensivelmente 300 pessoas, colocando o tema da segurança no topo da agenda da vida política russa, para nunca mais sair de lá. Em Outubro desse ano, como resposta, Putin dava ordem para o envio de tropas para a Chechénia.

Nas eleições presidenciais de 2000, Putin obteve 53 por cento dos votos, contrastando com os 71 por cento conquistados quatro anos mais tarde. Por motivos de imposição constitucional que o impedia de concorrer a um terceiro mandato presidencial, Putin teve que fazer uma passagem pela chefia do Gvoerno entre 2008 e 2012, mas era claro que nunca teve verdadeiras intenções de deixar os desígnios da nação nas mãos do novo ocupante do Kremlin. Conhecendo-se um pouco da história política russa e da sua liderança, facilmente se chegaria à conclusão de que Putin era o homem por detrás do poder, enquanto o novo Presidente em exercício, Dimitri Medvedev, seria apenas um "fantoche". Medvedev compreendeu bem o seu papel nesta lógica de coabitação, remetendo-se praticamente a uma mera representação institucional, sem ousar discutir com Putin a liderança da política russa. Como na altura se constatou, a forma seria apenas um pormenor porque o que estava em causa era a substância da decisão. Ouvido pela rádio Ekho Moskvy, na altura, o analista russo Gleb Pavlovsky ia directo à questão central: "We can forget our favourite cliche that the president is tsar in Russia." E neste caso o Czar é Vladimir Putin que tanto o poderia ser na presidência, na chefia do Governo ou noutro cargo qualquer, desde que fizesse as devidas alterações constitucionais e que continuasse acompanhado dos seus "siloviki".

Aparentemente, Putin tem em Washington um parceiro que não o recriminará e que respeitará a sua liderança, desde que o Presidente russo não mexa com os interesses norte-americanos que, diga-se, nem será assim um exercício tão difícil de aplicar. Actualmente, Moscovo joga algumas das suas prioridades geoestratégicas e geopolíticas em tabuleiros que Trump já deu a entender não estar interessado. Agora, é ver a partir de dia 20 de Janeiro como o Czar Putin e o populista Trump se vão entender.

 

Publicado originalmente no Delito de Opinião.

 

O reforço de poder

Alexandre Guerra, 19.10.16

 

Não há dúvida alguma que Vladimir Putin tem reforçado o seu poder interno, como as recentes eleições parlamentares o confirmaram. Mas não é só nas urnas que isso acontece, já que o Presidente russo parece estar a criar uma rede de segurança e de interesses à sua volta, que parece assemelhar-se à lógica que norteava os líderes dos tempos comunistas. Politicamente, tem enfatizado uma retórica anti-Europa e anti-ocidental, ao mesmo tempo que vai intensificando a presença da Rússia nalgumas zonas do globo, como na Europa Oriental (Ucrânia), no Médio Oriente (via Síria) ou no Cáucaso. Por exemplo, o parlamento da Arménia ratificou há dias um acordo com a Rússia para se criar um sistema de defesa anti-míssil para a zona do Cáucaso. Já noutra zona do globo, recentemente vieram notícias a dar conta de que Moscovo pretende reactivar bases militares dos tempos da Guerra Fria em Cuba e no Vietname.

 

Da Rússia, Hillary pode esperar tudo menos amor

Alexandre Guerra, 27.07.16

 

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Até que ponto Vladimir Putin detestará Hillary Clinton? É díficil dar uma resposta com total objectividade, mas existem alguns indícios de que, efectivamente, o Presidente russo não "morrerá de amores" pela candidata presidencial democrata. Será uma animosidade política e até pessoal que já vem de longe, mas que se terá intensificado nos últimos meses de campanha, com as palavras cada vez mais duras que Clinton foi dirigindo a Putin. Ao mesmo tempo, o Kremlin foi ouvindo da boca de Donald Trump autênticas odes às virtudes do líder russo.

 

Quando na passada Sexta-feira, em vésperas da Convenção Nacional do Partido Democrata, foram divulgados e-mails comprometedores para a campanha de Hillary Clinton, que terão sido enviados a cerca de 20 mil militantes democratas, com o objectivo de denegrir Bernie Sanders,surgiram de imediato algumas teorias que metiam o Kremlin por detrás desta "fuga", já que esta informação iria prejudicar claramente Hillary. Algumas fontes ouvidas pela NBC, entre especialistas e antigos diplomatas, parecem ter poucas dúvidas quanto à antipatia que Putin nutre por Hillary. O antigo embaixador dos EUA em Moscovo, Michael McFaul, considera que aquela fuga de informação foi levada a cabo por hackers profissionais apoiados pelo Kremlin, uma tese corroborada por vários especialistas em ciber-segurança. 

 

Não seria a primeira vez que um Estado estaria por detrás de uma iniciativa deste género com o objectivo de atingir o inimigo, seja ele qual for. Neste momento, o Kremlin já parece ter feito a sua escolha no que diz respeito aos dois candidatos presidenciais nos EUA: Donald Trump. Não seria por isso de estranhar que o Kremlin tivesse patrocinado esta fuga de informação, até porque às vezes são os pequenos sinais que ajudam a comprovar a existência de uma estratégia concertada. Ainda esta manhã, por coincidência ou não, na RT, canal em inglês de alcance internacional financiado pelo Governo russo, passava uma reportagem bastante crítica sobre a fortuna dos Clinton, partindo da análise ao filme propagandístico Clinton Cash, que acabou de estrear e é simplesmente arrasador para Hillary.

 

Crise dos refugiados? O melhor é Bruxelas começar a ligar para o Kremlin

Alexandre Guerra, 19.09.15

 

Enquanto os líderes europeus estão sem qualquer estratégia comum para fazer face à crise dos migrantes/refugiados, deixando transparecer um lamentável espectáculo de vazio político para o resto do mundo, optando por uma táctica de "cada um por si", Moscovo percebeu há bastante tempo que qualquer solução para este assunto terá sempre que passar por Damasco e não por Berlim, Budapeste, Roma, Atenas ou Zagreb. O que estas chancelarias europeias estão neste momento a fazer é a colocar "pensos rápidos" numa ferida profunda a céu aberto.

 

O líder russo Vladimir Putin tem aproveitado a distracção europeia para ir reforçando a sua presença política e militar na Síria, tornando-se num actor incontornável em qualquer futuro processo negocial entre a União Europeia e o regime de Damasco. Aliás, nos últimos dias, Moscovo tem surgido como o interlocutor privilegiado do Departamento de Defesa norte-americano, tendo Washington já percebido que, mais uma vez, não pode contar com a União Europeia para qualquer acção concertada mais afirmativa. O melhor mesmo é a Casa Branca ligar directamente para o Kremlin. 

 

O que dirá Putin amanhã?

Alexandre Guerra, 17.12.14

 

Foram precisos alguns meses, mas as consequências do "cerco" económico e financeiro que a União Europeia e os Estados Unidos estão a fazer à Rússia sentem-se, finalmente, de forma estrondosa. Sobre o Presidente Vladimir Putin abate-se uma autêntica tempestade perfeita, que conjuga não apenas a fuga de capital estrangeiro e a desvalorização do rublo para níveis preocupantes, como também a queda acentuada do preço do petróleo, que obrigará o Kremlin a rever o orçamento para 2015, elaborado na premissa de que o barril de petróleo se situaria entre os 80 e 90 euros.

 

O discurso de Putin sobre o estado da Nação no passado dia 4 foi fraco e não trouxe quaisquer ideias para travar a espiral económica e financeira que o país atravessa. Entretanto, já passaram mais de duas semanas e os acontecimentos pioraram, o que vai obrigar Putin a reagir de forma veemente na mensagem a transmitir os cidadãos e aos agentes económicos. Por isso, é com expectativa que se aguarda o que vai dizer o Presidente na tradicional conferência de imprensa de Fim de Ano, agendada para esta Quinta-feira. 

 

Os alinhamentos geoestratégicos e geopolíticos do futuro

Alexandre Guerra, 02.09.14

 

Putin com Alexei Miller (dir.) da Gazprom e Zhang Gaoli (esq.), ontem em Namsky Highway/Foto: (RIA Novosti / Alexey Nikolsky)

 

Poucos deram atenção, mas ontem ocorreu um facto revelador daquilo que poderão ser os alinhamentos geoestratégicos e geopolíticos dos próximos anos na Ásia, com base na interdependência complexa entre os Estados. O Presidente russo, Vladimir Putin, e o vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Gaoli, estiveram presentes no início da construção do novo gasoduto que vai ligar os dois países.

 

As obras arrancaram na Sibéria e pela primeira vez a parte oriental da Rússia vai estar toda ligada por um gasoduto que chegará à China. O "Power of Siberia", nome pelo qual o gasoduto é conhecido, era uma obra há muito ambicionada pelos dois países. São 4000 quilómetros e trata-se do maior projecto do mundo deste género. O gasoduto deverá começar a funcionar em 2019 e será um elo forte nas relações entre Pequim e Moscovo. 

 

Por um lado, a China consegue uma fonte de energia segura e eficiente e, por outro, a Rússia garante a diversificação do seu mercado exportador, passando a depender menos da Europa. 

 

 

Uma entrevista desconcertante

Alexandre Guerra, 02.04.14

 

Victor Yanukovych deu hoje uma entrevista à Associated Press e à NTV no mínimo desconcertante. Diz o ex-Presidente deposto da Ucrânia, e que se refugiou na Rússia com a cobertura do Kremlin, que "errou" ao pedir às forças russas para entrarem na Crimeia. Vai mais longe ao considerar a anexação daquele território na Rússia como uma "tragédia". E acrescenta ainda que se ele se tivesse mantido no poder em Kiev nada disto teria acontecido e a Crimeia continuaria a fazer parte da Ucrânia. Uma situação que, aliás, Yanukovych esperava ver reposta.

 

Ora, assim à primeira vista dir-se-ia que esta entrevista desafia a lógica de alinhamento político entre Yanukovych e o Presidente Vladimir Putin até aqui percepcionada pelos analistas.

 

Perante este novo quadro, tentam encontrar-se explicações racionais. Por exemplo, David Stern, correspondente da BBC News em Kiev, coloca as coisas do seguinte modo: Ou as declarações de Yanukovych são uma "estratégia engenhosa" para impulsionar a sua reputação junto dos seus conterrâneos, ou então, uma "asneirada de proporções gigantescas".

 

À semelhança de Pedro, também Putin sente que é "Imperador de toda a Rússia".

Alexandre Guerra, 26.03.14

 

Pedro, o Grande (1672-1725), Czar e depois "Imperador de toda a Rússia"

 

Pedro I, mais conhecido como o "Grande" (1672-1725), czar da Rússia, foi um líder que levou modernidade àquele país e provocou uma autêntica revolução cultural e científica, muito influenciado pelos ventos da modernidade que sopravam da Europa Ocidental (São Petersburgo é exemplo disso). Mas nem por isso, Pedro deixou de ser um líder autoritário, que reforçou o absolutismo no estilo de governação, crente na supremacia do poder monárquico indivisível, ao ponto de se auto-denominar de "Imperador de toda a Rússia". Aquilo que formalmente Vladimir Putin não é, mas que na prática sente que é.