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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Blair foi o primeiro a saltar para a arena política em defesa da Europa em que acredita

Alexandre Guerra, 27.05.14

 

 

Dois depois das eleições europeias, as ondas de choque ainda se fazem sentir e, muito certamente, assim continuará nos próximos tempos. O seu impacto será sentido de forma diferente em cada país, mas uma coisa é certa, Estados como a França, a Grécia ou o Reino Unido viram o seu sistema político ser abalado de forma substancial, com a emergência de forças exteriores ao quadro "mainstream".

 

E perante esse vendaval, Tony Blair foi a primeira grande figura europeia a saltar para a arena política para manifestar a importância de se combater forças políticas mais radicais ou eurocépticas. Hoje, em entrevista à rádio BBC, o antigo primeiro-ministro trabalhista britânico disse que as pessoas vão descobrir coisas desagradáveis assim que começarem a conhecer melhor o UKIP, partido independentista que venceu as eleições em Inglaterra.

 

Blair, que foi um dos líderes mais carismáticos das últimas décadas em terras de Sua Majestade, apela a Ed Miliband, actual líder do Labour, para combater de forma determinada o UKIP e para não ceder na recusa a um referendo de "in/out" à União Europeia. Um apelo que se estende também aos outros líderes políticos dos partidos tradicionais.

 

Goste-se ou não, há que reconhecer que Blair foi um líder que sempre acreditou que o Reino Unido estaria melhor na UE do que fora dela e muito fez para aproximar o seu país ao projecto europeu, percebendo também que, por exemplo, Londres é hoje o que é por causa, em grande parte, da imigração. De certo modo, Blair foi mais europeísta do que outros líderes de países com tradições mais enraízadas na UE. 

 

Depois de nos últimos anos ter andado por este mundo fora a ganhar fortunas em conferências, fica-lhe bem regressar agora à arena política para defender os valores e ideais de uma Europa em que acredita. 

 

Momento Austin Powers

Alexandre Guerra, 10.12.12

 

 

Numa das passagens do livro "Os Anos Blair", Alastair Campbell relembra o seguinte episódio ocorrido no dia 5 de Abril de 2002:

 

"Era o dia da procissão do corpo da rainha-mãe para a câmara ardente. Estava um belo dia soalheiro, com uma cobertura total da família real, multidões razoáveis, uma atmosfera agradável. Fui [Campbell] encontrar-me com Tony Blair no apartamento. Outro momento Austin Powers. Cuecas amarelas/verdes e nada mais. Disse-lhe que parecia ridículo. Ele respondeu que era só inveja -- quantos primeiros-ministros tinham um corpo daqueles?"


Yorke criticou o Tory, nunca acreditou no New Labour, mas Cameron gosta dele

Alexandre Guerra, 03.07.11

 

 

Como já aqui foi referido por diversas ocasiões, existe uma relação íntima entre a política e as diferentes formas de expressão artística, sejam elas o cinema, a música, a literatura ou outras.

 

Os artistas, numa lógica mais intervencionista na sociedade, empenham-se em transmitir uma determinada mensagem política, social ou económica. A música tem sido um dos principais veículos para esse efeito, com cantores e bandas a produzirem, por vezes, obras de arte que são ao mesmo tempo autênticos manifestos.

 

Há uns dias, o Diplomata recuperava da prateleira um desses raros casos, uma verdadeira homenagem à música, mas também uma prolífica declaração de ideias.

 

Lançado em 1997, o intenso álbum "Ok Computer" dos britânicos Radiohead, liderados pelo carismático Thom Yorke, foi uma afirmação musical, mas também uma crítica aos valores do paradigma político e social vigente na altura, sobretudo nos países ocidentais.

 

O consumismo, a apatia das massas, a ausência de espírito crítico, a globalização, o capitalismo selvagem, são algumas das temáticas abordadas no álbum, que ainda hoje permanecem actuais.

 

A “Fitter Happier”, inspirada nos escritos de Noam Chomsky (autor que aliás serviu de referência para Yorke), a espectacular “No Surprises”, sobre a desilusão perante o vazio da sociedade e da política, ou "Let Down", que fala sobre a sensação de alheamento em relação às pessoas, são algumas das músicas que compõem "Ok Computer".  

 

Numa altura em que a Inglaterra iniciava a sua caminhada na Terceira Via do New Labour de Tony Blair, Thom Yorke mostrava-se aliviado após duas décadas de conservadorismo político, que o influenciaram na criação do álbum. No entanto, Yorke não se mostrava muito confiante que o “New Labour” pudesse trazer para a sociedade os valores que apregoava. Algo que iria confirmar anos depois, demonstrando alguma frustração ao reinado de Blair.

 

Uma das ironias interessantes é o facto do actual primeiro-ministro britânico conservador, David Cameron, ser um admirador do trabalho dos Radiohead. A este propósito, o Diplomata sugere a leitura de uma entrevista dada por Yorke ao The Comment Factory, em Fevereiro do ano passado, na qual o vocalista dos Radiohead fala sobre a sua relação com a política e políticos.  

 

"Ok Computer" é hoje uma referência dos anos 90 e um marco na história da música. Dizem os críticos que é um dos melhores álbuns jamais feitos, e talvez não seja exagero em falar-se num “antes” e num “depois” de "Ok Computer".

 

Novo livro revela como a invasão do Iraque colocou Blair perto do colapso mental

Alexandre Guerra, 28.02.10

 

 

Tony Blair em 2004/Foto: Paul Grover/Rex Features

 
Um homem deprimido e afectado psicologicamente pela invasão ao Iraque, é assim que Andrew Rawnsley do Observer descreve o antigo primeiro-ministro Tony Blair, a meio do seu segundo mandato, que chegou a confessar ao seu vice, John Prescott, e a Gordon Brown, na altura com a pasta das Finanças, a possibilidade de se demitir.
 
Esta informação explosiva é revelada no novo livro The End of the Party, que estará a partir desta Segunda-feira nas livrarias. De acordo com Rawnsley, Tony Blair ficou mais abalado do que aquilo que inicialmente tinha sido afirmado pelo próprio. As consequências da invasão do Iraque terão contribuído para um acentuado declínio físico e psicológico de Blair, que terá partilhado com amigos as perturbações que o afectavam, nomeadamente, as várias vezes que acordava durante a noite com suores frios.
 
 
Segundo o livro de The End of the Party, o primeiro-ministro vivia atormentado pelos acontecimentos sangrentos que iam ocorrendo diariamente no Iraque, mergulhando num autêntico estado de depressão. De tal forma que os membros do staff mais próximo de Blair tentaram evitar que o enviado especial britânico ao Iraque, Sir Jeremy Greenstock, fosse a Downing Street para apresentar um relatório que se esperava duro e que podia precipitar o colapso mental do primeiro-ministro.
 
A situação era de tal forma grave que Blair terá mesmo informado Brown e Prescott, entre Novembro 2003 e a Primavera de 2004, que ia abdicar da liderança do Governo em prol do primeiro.
 
No entanto, com a ajuda da sua mulher, Cherie, e dos seus amigos políticos mais próximos, Blair acabou por conseguir recuperar, adiando por mais algum tempo a concretização da ambição de Brown.

 

Campbell não se arrepende, mas fragiliza Blair e compromete Brown

Alexandre Guerra, 12.01.10

 

Alastair Campbell, esta Terça-feira, durante o inquérito sobre o Iraque/PA

 

Sem arrependimentos nem desculpas, foi desta forma que Alastair Campbell, antigo responsável pela estratégia de comunicação do ex-primeiro-ministro, Tony Blair, entre 1997 e 2003, se apresentou esta Terça-feira na comissão de inquérito britânica que investiga o papel do Governo inglês entre o período de 2001 e 2009 no que diz respeito ao Iraque.

 

Campbell foi o principal responsável pelo dossier que começou a circular em Setembro de 2002 e que referia que o Iraque possuía armas de destruição maciça e que tinha capacidade de responder em 45 minutos a qualquer ataque externo.

 

O antigo homem forte da comunicação de Blair veio hoje reiterar que mantém todas as palavras que incluiu no documento, admitindo, no entanto, que as "coisa poderiam ter sido feito de forma diferente aquando da invasão em Março de 2003".

 

Com esta posição, Campbell descarta-se de qualquer responsabilidade no processo que espoletou a invasão do Iraque, imputando eventuais erros a quem implementou a estratégia militar. 

 

Depois de Blair, que há umas semanas revelou numa entrevista à BBC, que  manteria a sua decisão de invadir o Iraque mesmo à luz das informações mais tarde reveladas quanto à inexistência de armas de destruição maciça, vem agora Campbell com um discurso alinhado no mesmo tom.

 

No entanto, o testemunho de Campbell, que durou mais de cinco horas, fragilizou, ainda mais, a argumentação de Blair sobre a invasão do Iraque. O ex-homem forte da comunição do Labour referiu que o primeiro-ministro britânico tinha prometido ao então Presidente George W. Bush que a Inglaterra estaria ao lado dos Estados Unidos em qualquer circunstância se Washington decidisse atacar o Iraque.

 

Talvez ainda mais problemático, sobretudo com eleições legislativas a poucos meses, tenha sido o facto de Campbell ter mencionado o nome de Gordon Brown, na altura responsável pelas pasta das Finanças, como uma das "figuras-chave" no dossier iraquiano. Segundo Campbell, Brown era um dos ministros mais consultados por Blair sobre a questão do Iraque.

 

Esta informação poderá vir a provocar alguns incómodos para Brown, sobretudo numa altura em que a campanha eleitoral começa a assumir contornos mais agressivos, com os conservadores liderados por David Cameron a não se coibirem de utilizarem todos os argumentos ao seu alcance para fragilizar a imagem do primeiro-ministro.  

 

Blair: I would have invaded Iraq anyway

Alexandre Guerra, 12.12.09

 

“Blair: I would have invaded Iraq anyway”, lê-se este Sábado na versão impressa do The Guardian, antecipando a entrevista que vai passar amanhã na BBC1, na qual o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reforça a sua convicção no apoio político e militar dado a Washington para a invasão do Iraque em 2003.

 

Ao ler isto, o Diplomata não pôde deixar de notar a oportunidade desta entrevista, já que há poucos dias aqui neste espaço tinha sido abordada precisamente a problemática do Iraque.

 

Nesse mesmo texto falava-se num processo decisório confuso e politicamente desonesto levado a cabo por um grupo restrito de pessoas em Londres e em Washington, sob pressupostos ideológicos, apesar de se ter criado um suposto “casus belli” assente num enredo chamado de “armas de destruição maciça”.

 
Na altura, foram vários os alertas e os avisos para os riscos de uma “aventura” no Iraque, vindos de todos os quadrantes, inclusive de pessoas próximas do então Presidente George W. Bush e de Tony Blair.
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Por exemplo, na notícia do The Guardian constata-se que o então Procurador-geral, Lord Goldsmith, tinha avisado o primeiro-ministro em Julho de 2002, oito meses antes da invasão, que não bastavam os critérios ideológicos para sustentar a posição de Blair para derrubar um regime. Tal argumentação não tinha sustentação jurídica.
 
No entanto, desde a denúncia do embuste das armas de destruição maciça, Blair justifica a sua acção, ainda com mais veemência, com base num “direito para remover Saddam Hussein do poder”. Assume o erro das armas de destruição maciça, mas adianta que este não era o único factor para justificar uma invasão. A percepção da ameaça e a necessidade de afastar um mal maior da liderança de um país são para si factores para afastar um homem como Saddam.
 
Uma visão que Sir John Sawers, antigo conselheiro de Blair para a política externa e actualmente chefe do MI6, não partilha. Citado pelo The Guardian, Sawers revela que o Iraque era apenas um dos vários países onde Londres gostaria de ver um “regime change”, mas isso não quer dizer que se estejam a delinear políticas activas com esse fim.
 

A fonte ideológica do erro iraquiano

Alexandre Guerra, 09.12.09

 

 

A operação militar no Iraque para derrubar o regime de Saddam Hussein foi um erro estratégico de proporções gigantescas, cujas consequências vão perpetuar-se durante muitos e longos anos. E não foi um daqueles erros que apenas se confirma à posterior (porque esses são fáceis de apontar). 

 

Ontem de manhã, Bagdad acordou com cinco atentados bombistas no centro de cidade, matando sensivelmente 130 pessoas e ferindo cerca de 450.

 

DEADLIEST ATTACKS SINCE 2003
 
Aug 2007: More than 500 killed in attacks on villages near Sinjar
Nov 2006: 202 killed in multiple blasts in Baghdad
Apr 2007: 191 killed in car bombings in Baghdad
Mar 2004: 171 killed in bombings in Baghdad and Karbala
Oct 2009: 155 killed in twin truck bomb attacks in Baghdad
Mar 2007: 152 killed in truck bombing in Talafar

Source: News agencies, BBC

 

O "dossier" iraquiano foi gerido desde o início sob pressupostos muito duvidosos, e que desde logo suscitaram inúmeras resistências e críticas provenientes de diferentes sectores internos e externos, inclusive de Estados aliados de Washington.

 

Ignorando os vários alertas e informações veiculadas por entidades e especialistas credíveis, a administração americana, então liderada por George W. Bush, montou o seu próprio "caso" iraquiano, começando por incluir o país no tristemente célebro "eixo do mal". Para sustentar esta posição, foi criado o "enredo" das armas de destruição maciça, no qual Bagdad teria a capacidade de responder a um ataque externo em 45 minutos.

 

 

O cenário estava montado, contando ainda com a participação (forçada, diga-se) do secretário de Estado Colin Powell que, numa das actuações mais desastrosas feita nos  últimos anos nas Nações Unidas, tentou mostrar ao mundo laboratórios móveis, onde supostamente estariam a ser desenvolvidas armas de destruição maciça.    

 

Powell, como mais tarde veio a admitir, nunca foi um dos entusiastas da operação no Iraque, e a sua ida às Nações Undas terá sido certamente um dos momentos mais humilhantes da sua carreira. 

 

Mas, a verdade é que no interior do círculo restrito de Bush, Powell nunca conseguiu impor a sua visão realista do sistema internacional. Ao invés, impôs-se uma corrente ideologicamente mais vincada com o discurso do "connosco ou contra nós". 

 

Esta visão é uma herança da abordagem maniqueísta ao sistema internacional bipolar da Guerra Fria, não sendo por isso de estranhar que muitos dos "falcões" que estiveram com Bush já percorriam os corredores do poder nos anos 80 e 90.

 

No entanto, a sua influência não foi tão forte no início dos anos 90, quando Washington não quis derrubar Saddam, numa altura em que os soldados americanos expeliam os iraquianos do Kuwait e seguia ma passo acelerado para Bagdad.

 

 

Na altura, impôs-se a perspectiva realista ao não derrubar-se Saddam para evitar, por um lado, um vazio de poder na região e, por outro lado, uma potencial fragmentação do Iraque.

 

Os "falcões" foram internamente derrotados, mas mantiveram as suas convicções, continuando a ver Saddam unicamente através da lente ideológica, tal como olharam para Moscovo durante anos. Além disso, foram pessoas que continuaram muito próximas dos centros de decisão em Washington, ganhando particular espaço político na administração de George W. Bush.

 

 

A operação militar de 2003 e o "casus belli" que a sustentou é resultado dessa visão ideológica que foi persistindo em Washington ao longo dos anos. 

 

Sob o trauma dos atentados do 11 de Setembro e com a ameaça terrorista a pairar, Bush acabou por ceder à visão ideológica dessa corrente, asfixiando o campo realista personificado em pessoas como Powell ou Condoleezza Rice.

 

Hoje, mais de seis anos após a invasão americana àquele país, o erro é uma evidência histórica e já foi escalpelizado vezes sem conta, inclusive, embaraçando líderes como Bush ou o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

  

Figuras de segunda linha geram consenso pouco habitual entre os Vinte e Sete

Alexandre Guerra, 19.11.09

 

 

A escolha dos nomes para os dois cargos da União Europeia criados com o Tratado de Lisboa foi célere, tendo bastado apenas algumas horas de conferência informal em Bruxelas para que os líderes dos Vinte e Sete nomeassem o primeiro-ministro belga, Herman van Rompuy, para se tornar no primeiro presidente permanente do Conselho da União Europeia, e Catherina Ashton, actual comissária do Comércio, para o cargo de Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança. 

 

De forma estranhamente pacífica e consensual, os líderes europeus nomearam Rompuy e Ashton, após terem passado várias semanas num tom crispado a trocarem diferentes nomes, entre os quais de homens tão influentes ou conhecidos na cena política europeia como Tony Blair, Jean-Claude Junker ou Jan Peter Balkenende.

 

Contra todas as expectativas, os líderes dos Vinte e Sete acabaram por optar por figuras "low profile" na vida política europeia, e terá sido precisamente esse o segredo para o clima de relativa tranquilidade em que decorreu o encontro informal dos chefes de Estado e de Governo. 

 

É preciso também referir que a Suécia, que ocupa actualmente a presidência rotativa da UE, geriu de forma bastante inteligente todo o processo, percebendo que não se chegaria a bom porto se se mantivesse o leque de nomes que foram sendo avançados nas últimas semanas, nomeadamente o de Tony Blair para o cargo de Presidente da UE.

 

Perante este cenário, a Suécia optou pela estratégia inversa e apostou em políticos pouco conhecidos que, de certa forma, têm estado distanciados dos alinhamentos ideológicos e das questões fracturantes que a UE têm vivido nos últimos tempos. 

 

Além disso, a presidência sueca foi sensível aos interesses de Londres, porque não obstante Blair ter perdido a corrida para a presidência da UE, os britânicos acabaram por ser compensados com a pasta dos negócios estrangeiros e da segurança que, segundo alguns analistas, terá mais poder que o próprio cargo de presidente do Conselho.