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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

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A importância do segredo

Alexandre Guerra, 16.10.18

 

Para os saudosos da Guerra Fria, os tempos que se vivem actualmente no sistema internacional são de anarquia total ao nível da comunidade de intelligence militar e paramilitar, mergulhada numa lógica de far west, onde se dispara primeiro e se pergunta depois, mesmo que em plena luz do dia, à vista de todos. A arte do segredo está a perder-se, porque, para se defender os interesses do Estado, já não é preciso fazer o “trabalho sujo” no obscurantismo das relações internacionais. Não se temem as consequências e tudo pode ser feita às claras ou com um grau de displicência que envergonharia qualquer agente da "velha guarda" do KGB ou da CIA. Como referia Ferreira Fernandes na sua última crónica no DN de Domingo, “o mais interessante é a generalização dessa linguagem de mata e esfola”, protagonizada por alguns líderes mundiais, nomeadamente por aqueles que estão à frente da Rússia e dos EUA, as duas super-potências que outrora dividiram os desígnios do mundo.

 

Este tipo de discurso irresponsável e inconsciente, conivente com práticas imorais e ilegais que são concretizadas quase sob os holofotes da opinião pública, contribui para um sentimento de impunidade no seio das comunidades das “secretas” mundiais. Retomando as palavras de Ferreira Fernandes, “peguemos no caso dos dois espiões russos que foram a Inglaterra matar um ex-colega que se passara para o outro lado. Foram a casa dele em Salisbury, envenenaram o que tinham para envenenar e regressaram a casa. Não se importaram de deixar pistas. Suspeitos, aparecem na televisão russa oficial com historietas despudoradas de terem ido a Salisbury invocando dados turísticos que vinham na Wikipédia. Tão descuidados, deixaram que os seus nomes reais aparecessem: são agentes da inteligência militar russa (GRU). Entretanto, outros espiões russos são apanhados em Haia, Holanda. Com sofisticação dos aparelhos faziam pirataria informática a partir de um carro estacionado frente à OIAC, organização que combateu as armas químicas. Fora a OIAC que provara a origem russa do veneno usado em Salisbury. Ora, os espiões russos de Haia eram um livro aberto: até faturas de táxis eles tinham de corridas apanhadas à porta da sede moscovita do GRU”.

 

Esta passagem da crónica de Ferreira Fernandes é elucidativa do que se passa hoje em dia no sistema internacional, onde as “covert operations” deram lugar a acções semi-clandestinas, sem que haja particular preocupação de se evitar embaraços político-diplomáticos. As estas duas histórias, outras tantas podíamos aqui referir que foram identificadas nos últimos tempos, sendo que a mais recente é de tal maneira inverosímil pelo seu grau de descuido e de incompetência, que custa a acreditar que tenha acontecido como tem sido noticiado. Caso se confirmem as notícias que têm vindo a público e a tese avançada pelo Governo de Ancara, o assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista crítico do regime de Raide, dentro do consulado árabe na capital turca, sob o ponto de vista realista e maquiavélico, é um dos maiores desastres da história dos serviços de intelligence. Por um lado, além da óbvia questão moral, colocará um problema muito complicado a Washington e, por outro, expõe o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (e líder “de facto”) ao julgamento público de ter “ido longe demais” no silenciamento dos seus opositores.

 

No sistema bipolar de Guerra Fria, as regras vigentes no sistema internacional eram claras e seguidas à risca pelos diferentes actores estatais. Dificilmente haveria espaço para “rogue killers” actuarem por sua conta e risco. Ninguém aprovaria uma operação com impacto sistémico sem que Moscovo ou Washington soubessem. Era impensável que serviços secretos de um qualquer país ousassem dar luz verde a uma “covert operation” sem que estivesse enquadrada nos interesses do “tabuleiro” sistémico bipolar (Israel foi sempre uma excepção na arquitectura da espionagem internacional).

 

Esse secretismo contribuiu para um equilíbrio sistémico que, com mais ou menos desanuviamento, com mais ou menos crise regional, evitou um novo conflito mundial. Na defesa dos seus interesses, Washington e Moscovo agiram, muitas vezes, à margem do quadro legal internacional e dos princípios éticos e morais, refugiando-se no obscuro mundo da espionagem. Essas operações e acções ficaram longe dos olhares da opinião pública, a quem o que interessava mais era a manutenção dos estilos de vida das suas sociedades.

 

Tal como nas relações sociais entre pessoas, também nas dinâmicas entre Estados, se, por um lado, nem tudo deve ficar no secretismo, também não se deve (e pode) meter tudo às claras, correndo-se o risco de se fomentarem crises político-diplomáticas, e até mesmo militares, que comprometam o status quo e, em última instância, a paz e segurança das pessoas. É por isso que a gestão do segredo continua a ser um factor fundamental na estabilidade das relações internacionais, porque, a partir do momento em que se instala nas sociedades a percepção de que tudo vale, de que ninguém respeita uma certa ordem tácita, a sensação de insegurança aumenta, abrindo caminho para a penetração de ideias políticas que sustentem a chegado ao poder de lideranças mais musculadas e autoritárias. Ou seja, será a altura em que os cidadãos das democracias preferirão sacrificar as suas liberdades e garantias em prol da segurança.

 

2017, o ano do renascimento do Czar Putin

Alexandre Guerra, 02.01.17

 

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A eleição de Donald Trump veio colocar Vladimir Putin numa posição de enorme relevância no sistema internacional, talvez como nunca tenha tido antes, porque, pela primeira vez, tem em Washington um interlocutor que lhe parece reconhecer o seu poder czarista e autoritário sem qualquer constrangimento ou julgamento moral. Mais, Trump parece estar disposto a aceitar e a respeitar as regras do jogo definidas por Putin, naquilo que poderá ser um paradigma com algumas semelhanças ao sistema de Guerra Fria em matéria de delimitação de zonas de influência. Perante isto, e à luz daquilo que se tem vindo a saber, é muito provável que Putin venha novamente a estar num plano de igualdade com o seu homólogo norte-americano. Trump parece querer conceder-lhe esse privilégio, já que não o deverá fazer a mais nenhum chefe de Estado. Além disso, do que se vai percebendo, Trump acreditará que o mundo pode ser gerido novamente pelas duas potências, numa divisão de influências, onde a China e outros Estados emergentes não lhe merecem grande atenção (quantas vezes ouvimos Trump falar do Brasil, da Índia ou até mesmo do Reino Unido ou da Alemanha???). Hoje, mais do que nunca, é importante perceber quem é Putin, como pensa e como age.

Acompanho com atenção o percurso de Vladimir Putin ainda antes de ter sido eleito Presidente da Rússia pela primeira vez em 2000. Quando a 9 de Agosto de 1999 o então já falecido Presidente Boris Yeltsin demitia o seu Governo e apresentava ao mundo uma nova figura na vida política russa, poucos eram aqueles que conheciam Vladimir Putin. Aos 46 anos, Putin, ligado ao círculo de São Petersburgo, e antigo oficial do KGB (serviços secretos), assumia a chefia do novo Executivo, com a motivação manifestada por Yeltsin de que gostaria de vê-lo como seu sucessor nas eleições presidenciais de 2000. Segundo alguns registos, Putin nunca terá tido a intenção de seguir uma carreira política, no entanto, teve sempre um alto sentido de servidão ao Estado, como aliás fica bem evidente na recente biografia de Steven Lee Myers, "O Novo Cazar" (2015, Edições 70). Na altura, terá confessado que jamais tinha pensado no Kremlin, mas outros valores se erguiam: “We are military men, and we will implement the decision that has been made”, disse Putin. Muitos viram na decisão de Yeltsin o corolário de uma carreira recheada de erros e que conduzira o país a um estado de sítio. A ascensão de Putin era vista como mais um erro. Citado pelo The Moscow Times, Boris Nemtsov, na altura um dos líderes do bloco dos "jovens reformistas" na Duma e que viria a ser assassinado em Fevereiro de 2015, disse que Putin causou uma fraca impressão na primeira intervenção naquela câmara. "Não era carismático. Era fraco." Também ao mesmo jornal, Nikolai Petrov, do Carnegie Moscow Center, relembrava que Putin deixou uma "patética imagem", sendo um desconhecido dos grandes círculos políticos, e que demonstrava ter pouco à vontade com aparições públicas, chegando mesmo a ter alguns comportamentos provincianos.

Apesar disso, a Duma acabaria por aprovar a sua nomeação para a liderança do Governo, embora por uma margem mínima. É preciso não esquecer que Putin reunia apoio nalguns sectores, nomeadamente naqueles ligados aos serviços de segurança, que o viam como um homem inteligente e com grandes qualidades pessoais. E, efectivamente, após ter assumido os desígnios do Governo, Putin começou de imediato a colmatar algumas das suas falhas, nomeadamente ao nível de comunicação, e a desenvolver capacidades que se viriam a revelar fundamentais na sua vida política. É o próprio Nemtsov que reconheceu o facto de Putin se ter tornado mais agressivo e carismático, dando às pessoas a imagem do governante que os russos prezam. Características que se encaixaram na perfeição ao estilo musculado necessário para responder às explosões que ocorreram em blocos de apartamentos de três cidades russas, incluindo Moscovo, em Setembro de 1999, vitimando sensivelmente 300 pessoas, colocando o tema da segurança no topo da agenda da vida política russa, para nunca mais sair de lá. Em Outubro desse ano, como resposta, Putin dava ordem para o envio de tropas para a Chechénia.

Nas eleições presidenciais de 2000, Putin obteve 53 por cento dos votos, contrastando com os 71 por cento conquistados quatro anos mais tarde. Por motivos de imposição constitucional que o impedia de concorrer a um terceiro mandato presidencial, Putin teve que fazer uma passagem pela chefia do Gvoerno entre 2008 e 2012, mas era claro que nunca teve verdadeiras intenções de deixar os desígnios da nação nas mãos do novo ocupante do Kremlin. Conhecendo-se um pouco da história política russa e da sua liderança, facilmente se chegaria à conclusão de que Putin era o homem por detrás do poder, enquanto o novo Presidente em exercício, Dimitri Medvedev, seria apenas um "fantoche". Medvedev compreendeu bem o seu papel nesta lógica de coabitação, remetendo-se praticamente a uma mera representação institucional, sem ousar discutir com Putin a liderança da política russa. Como na altura se constatou, a forma seria apenas um pormenor porque o que estava em causa era a substância da decisão. Ouvido pela rádio Ekho Moskvy, na altura, o analista russo Gleb Pavlovsky ia directo à questão central: "We can forget our favourite cliche that the president is tsar in Russia." E neste caso o Czar é Vladimir Putin que tanto o poderia ser na presidência, na chefia do Governo ou noutro cargo qualquer, desde que fizesse as devidas alterações constitucionais e que continuasse acompanhado dos seus "siloviki".

Aparentemente, Putin tem em Washington um parceiro que não o recriminará e que respeitará a sua liderança, desde que o Presidente russo não mexa com os interesses norte-americanos que, diga-se, nem será assim um exercício tão difícil de aplicar. Actualmente, Moscovo joga algumas das suas prioridades geoestratégicas e geopolíticas em tabuleiros que Trump já deu a entender não estar interessado. Agora, é ver a partir de dia 20 de Janeiro como o Czar Putin e o populista Trump se vão entender.

 

Publicado originalmente no Delito de Opinião.

 

As lágrimas (de alegria) vertidas em Moscovo

Alexandre Guerra, 07.02.14

 

 

No dia em que começam os já muito polémicos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, cidade russa localizada na costa do Mar Negro, a BBC News relembra que em 1975, o então secretário-geral da Partido Comunista Soviético, Leonid Brezhnev, escrevera a um colega no Politburo, alertando para os eventuais avultados custos financeiros e possíveis escândalos que surgiriam caso a União Soviética acolhesse os Olímpicos de 1980. E Brezhnev terá ido ainda mais longe, sugerindo que seria possível à URSS desistir do projecto, submetendo-se apenas a uma pequena multa.

 

Os Jogos Olímpicos de 1980 acabaram por realizar-se em Moscovo, embora sob um dos maiores boicotes de sempre liderado pelos Estados Unidos. Apesar disso, aqueles JO foram marcanres e ficaram simbolizados no Misha, a primeira mascote que se celebrizou à escala global. Para a História e na memória de quem viu, ficaram as lágrimas do Misha vertidas na cerimónia de encerramento.  

 

Desta vez o Kremlin é obrigado a admitir que ainda tem um conflito por resolver

Alexandre Guerra, 24.01.11

    

The following video was taken by an unidentified eyewitness. (Warning: it contains disturbing content.)

 

Em finais de Novembro de 2009, na ressaca do atentado do dia 27 desse mês ao Expresso Nevsky, que seguia na linha de ligação entre Moscovo a São Petersburgo, e que provocou 28 mortos e sensivelmente 100 feridos, o autor destas linhas recorda-se de ter citado Alexei Malashenko, um especialista em assuntos do Cáucaso do Norte do Carnegie Centre, que ao The Guardian tinha dito que o atentado teria sido provocado por rebeldes chechenos, que "querem a vingança" e criar um "espaço islâmico".

 

Apesar desta realidade, na altura do atentado ao Expresso Nevsky foi notório que Moscovo teve alguma relutância em atribuir responsabilidades aos rebeldes chechenos, adoptando, pelo contrário, uma posição bastante prudente.

 

Uma posição interessante e de certa forma inédita se se atender que aquele não tinha sido o "modus operandi" de Moscovo neste tipo de situações nos últimos anos. Perante ataques similares, o Kremlin nunca hesitou, desde o primeiro momento, em responsabilizar separatistas islâmicos do Cáucaso do Norte, independentemente das provas conseguidas ou dos factos apurados

 

No entanto, é importante relembrar que a Rússia tinha sofrido o seu último atentado a 31 de Agosto de 2007, na cidade de Togliatti que fez oito mortos e 50 feridos. Um outro a 21 de Agosto de 2006, no qual morreram 10 pessoas num mercado nos arredores de Moscovo. Depois é preciso recuar aos primeiros dias de Setembro de 2004 para os dramáticos acontecimentos na escola de Beslan, que acabou num banho de sangue, morrendo 331 reféns, metade dos quais crianças.

 

A verdade é que depois da tragédia de Beslan, Moscovo foi alimentando a ideia de que tinha a situação controlada no Cáucaso do Norte, e apesar dos atentados de 2006 e 2007, o Kremlin quase que assumiu uma espécie de vitória sobre os insurgentes islâmicos das repúblicas daquela região.

 

É por isso muito provável que perante o atentado ao Expresso Nevsky, Moscovo não tivesse querido reconhecer publicamente a responsabilidade dos rebeldes chechenos neste atentado, porque tal acto poderia ser percepcionado como uma admissão do reavivamento de um conflito, que se iniciou nos anos 90 e que o Kremlin há algum tempo teria dado como extinto a seu favor.

 

Porém, Alexei Malashenko relembrava que durante 2007 e 2008 a conjuntura no Cáucaso do Norte deteriora-se consideravelmente, levando mesmo a que nalgumas regiões se estivesse perante um estado de guerra civil iminente.

 

Já em Agosto de 2009, o New York Times publicara uma excelente reportagem na qual se podia constatar o reacendimento da violência nas repúblicas do Daguestão, da Inguchétia e da Chechénia. Nos últimos meses desse ano assistira-se também ao ressurgimento de vários ataques e atentados em território russo perpetrados por rebeldes provenientes de Kabardino-Balkaria.

 

A verdade é que depois dos acontecimentos de 27 de Novembro de 2009, a Rússia viria a sofrer um outro atentado a 29 de Março de 2010 no metro de Moscovo, provocando 40 mortos e ferindo 75. Terminava assim uma década marcada pela violência terrorista em território russo, precedida pelos não menos sangrentos anos 90.

 

Hoje, a Rússia voltou a ser alvo de um atentado terrorista, desta vez no aeroporto internacional de Moscovo, Domodevo, que matou pelo menos 35 pessoas e feriu 100. O atentado terá sido provocado por um terrorista suicida ligado os movimentos terroristas do Cáucaso do Norte.

 

Perante isto, o Presidente Dimitri Medvedev já veio admitir que a pobreza, a corrupção e o conflito no Cáucaso do Norte são o principal problema interno da Rússia.

 

Este atentado, e tendo em conta o seu impacto psicológico, já que os terroristas conseguiram infligir um ataque numa estrutura tão importante como um aeroporto, veio demonstrar que os líderes do Kremlin não têm conseguido encontrar uma solução definitiva para a violência emanada do Cáucaso do Norte. Concomitantemente, os rebeldes islâmicos têm tentado demonstrar que os responsáveis russos não conseguem garantir a segurança dos seus cidadãos.

 

Como resposta imediata a este atentado, a Rússia está em alerta máximo, no entanto, a grande dúvida é saber que medidas serão tomadas pelo Kremlin em relação à conjuntura do Cáucaso, não sendo de descartar operações militares naquelas repúblicas.

 

*Texto publicado originalmente no Albergue Espanhol

 

Ronald Reagan também teve o seu episódio na saga "Star Wars"

Alexandre Guerra, 23.01.11

 

 

Strategic Defense Initiative (SDI). Dito assim, poucos se lembrarão o que esta sigla quererá dizer, apesar de ter sido uma das iniciativas políticas mais importantes e polémicas na década de 80. Agora, se se falar em “Star Wars”, então, provavelmente, muitos se lembrarão do famoso e polémico projecto anunciado pelo Presidente Ronald Reagan, numa comunicação ao País através da Casa Branca, a 23 de Março de 1983.

 

Projectado para a construção de um escudo antimíssil balístico contra a ameaça nuclear soviética, o SDI seria composto por uma série de sistemas terrestres e espaciais, que cobriria os Estados Unidos com uma espécie de escudo.

 

Perante a grandeza e a espectacularidade do SDI, rapidamente o projecto adoptou o nome “Star Wars”, numa alusão à célebre saga de George Lucas, cujo primeiro (na realidade o episódio IV) filme tinha sido lançado a 25 de Março de 1977, e contribuído para a "febre" e “descoberta” do Espaço como a nova fronteira da Humanidade.

 

O SDI mereceu as críticas de quase toda a comunidade científica, por considerar o projecto irrealista e tecnicamente impossível de concretizar, além de ter custos astronómicos, pertencendo ao mundo da fantasia e do imaginário, tal como a “Star Wars” de Lucas. Mas, para outros, a referência à saga “Star Wars” era uma forma de perspectivar um futuro real, mas que implicava um investimento prévio.

 

 

Ao contrário da saga de Lucas, a “Star Wars” de Reagan nunca viu a luz do dia, embora tenha permanecido na agenda política norte-americana desde então, com diferentes denominações e mudanças de conceito, estando nos dias hoje em discussão um novo sistema de defesa antimíssil, em parceria com a Rússia.

 

Reagan pretendia que o projecto “Star Wars” viesse assumir-se como uma nova doutrina militar de defesa estratégica, que substituísse a MAD (Mutual Assured Destruction), para se defender do Império do Mal, expressão que usara a 8 de Março de 1983 para caracterizar a União Soviética.

 

Houve também quem dissesse que com este projecto dispendioso Reagan quisesse sobrecarregar os cofres de Moscovo, obrigando o Kremlin a acompanhar o esforço militar, tecnológico e científico americano, à semelhança do que tinha acontecido durante a Guerra Fria, numa lógica de procura constante pela paridade entre as duas Super Potências.

 

*Depois do texto publicado na semana passada, o Diplomata continua a nova rubrica anunciada neste espaço.

 

No xadrez da geoestratégia todos os votos contam na Assembleia Geral da ONU

Alexandre Guerra, 28.09.10

 

 

Como é habitual nesta altura do ano por ocasião da sessão de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, viveram-se dias de grande actividade diplomática na sede daquela organização em Nova Iorque. É um acontecimento que reúne líderes de todo o mundo, muitos dos quais aproveitam o momento para realizarem autênticas ofensivas políticas, como foi, mais uma vez, o caso do Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad.

 

Mas é também o momento em que muitos chefes de Estado aproveitam para fazer “diplomacia de corredor” na defesa dos seus interesses. Aliás, Portugal foi um exemplo, com o primeiro-ministro José Sócrates a ir a Nova Iorque para captar apoios para a candidatura do país ao Conselho de Segurança enquanto um dos dez membros rotativos não permanentes. Além do discurso proferido na Assembleia, Sócrates encetou vários encontros bilaterais com representantes de vários países.

 

Os corredores da ONU nesta altura do ano podem representar oportunidades particularmente importantes para pequenos estados como Portugal.

 

Como alguém dizia há uns anos, apesar de todos os seus males, a Assembleia Geral das Nações Unidas é o único sítio onde todos países podem falar uns com os outros de igual para igual.

 

Efectivamente, a lógica reinante é de um país, um voto, sejam os Estados Unidos ou o Togo. Ao contrário do Conselho de Segurança, onde os cinco membros permanentes têm poder de veto, na Assembleia Geral impera a lógica democrática da igualdade jurídica entre os Estados.

 

É por isso que ao nível das deliberações da Assembleia Geral a posição política veiculada por Estados de quem nunca ninguém ouviu falar pode assumir contornos particularmente importantes na discussão de algumas matérias sensíveis e respectivas votações.

 

Poucas pessoas já deverão ter ouvido falar em países como Nauru ou Tuvalu, já que se tratam de duas das nações mais pequenas do mundo, ilhas situadas no meio do Pacífico, não tendo ambas mais do que 30 mil habitantes.

 

Insignificantes no xadrez da política internacional, assumirá o leitor. Uma assumpção compreensível, mas que não corresponde necessariamente à verdade, pelo menos no que toca ao Nauru e ao Tuvalu.

 

Por mais estranho que pareça, aqueles dois países são suficientemente importantes para despertar a atenção de Washington e Moscovo. Não pela sua posição estratégica, pelas suas riquezas minerais ou por uma eventual parceria de contratos para a venda de material militar, mas sim por causa do seu voto na Assembleia Geral. Um voto que poderá ser muito importante no que toca ao reconhecimento de novas nações independentes ou no apoio de resoluções.

 

Thomas de Waal relembra, num artigo na The National Interest, que o Nauru se tornou em 2009 no quarto país a reconhecer a Abecásia e a Ossétia do Sul como Estados independentes. Aquele autor justifica este estranho apoio por razões meramente financeiras, sugerindo que a bancarrota dos cofres de Nauru levaram o país a transformar o seu assento na Assembleia Geral em dinheiro.

 

Mas isto só é possível aproveitando o jogo geoestratégico entre os Estados Unidos e a Rússia. A independência do Abecásia e da Ossétia do Sul é do interesse de Moscovo no âmbito dos seus objectivos estratégicos na região do Cáucaso, visando o enfraquecimento da Geórgia.

 

Após o reconhecimento de Nauru nas Nações Unidas, Moscovo doou 9 milhões de dólares para a reconstrução do porto daquela ilha.  

 

Tbilisi não se ficou. Thomas de Waal relata que o Governo daquele país utilizou Tuvalu para contra atacar Moscovo. No passado dia 11 de Setembro foi noticiado que a Geórgia iria providenciar apoio financeiro à missão de Tuvalu nas Nações Unidas. Foi ainda revelado que Tbilisi tinha pago um carregamento de medicamentos com destino à população de Tuvalu no valor de 12 mil dólares.

 

Como resultado, aquele país do Pacífico foi um dos 50 países que apoiou uma resolução apresentada pela Geórgia na defesa do direito de retornos de todos os refugiados precisamente para a Abecásia e Ossétia do Sul. Nauru, por seu lado, foi naturalmente um dos 17 países que votou contra.

 

Washington também não está de fora desta estratégia. Por exemplo, numa resolução do ano passado que exortava à resolução pacífica do problema dos colonatos na Palestina, 164 países votaram favoravelmente. Os Estados Unidos votaram contra, integrando um grupo restrito de sete países, entre os quais se encontrava estranhamente (ou talvez não) o Nauru.

 

From Russia With Love… Mas desta vez num corpo “Victoria’s Secret”

Alexandre Guerra, 01.07.10

 

 

Anna Chapman é a nova “estrela” da espionagem internacional. Se o leitor julga que os agentes secretos não têm direito aos seus 15 minutos de fama, desengane-se, pois o mundo dos espiões também tem as suas estrelas.

 

No passado, nomes como Mata Hari, Julius e Ethel Rosenberg, Kim “Philby, Alger Hiss ou, mais recentemente, Robert Hanssen e Aldrich Ames, encheram páginas de jornais e alimentaram o imaginário de muitos.

 

Pois, a sexy e sensual Chapman, com direito a perfil no Linkedin e no Facebook, tornou-se a partir de Terça-feira à noite uma vedeta internacional, depois das suas fotos começarem a circular na internet e da imprensa internacional ter descoberto que, entre os 10 alegados espiões detidos no Domingo pelo FBI nos Estados Unidos (mais tarde foi detido um 11º primeiro suposto espião no Chipre que, entretanto, conseguiu escapar), se encontrava uma mulher de beleza fatal, com uma inteligência acima da média, capaz de levar qualquer homem (e quem sabe mulher) a revelar um segredo.

 

O New York Post, numa das crónicas mais citadas, referiu-se a ela como uma beleza escaldante num corpo “Victoria’s Secret”. Além disso, é lhe reconhecido o dom da inteligência e da sedução, o que a torna numa autêntica arma letal para os interesses americanos.

 

Segundo as notícias vindas a público, Chapman estaria a passar informação para Moscovo desde Janeiro, sendo certo que a agente se relacionava com círculos influentes de Manahatan e, segundo testemunhos, era uma excelente “networker”.

 

A sua página de Facebook, que contém várias fotos (sugestivas), começou a ter uma procura massiva, ao mesmo tempo que outros sites e redes iam republicando as imagens e vídeos da suposta agente. E como diz o Washington Post: “Sorte nossa que o seu perfil era público [no Facebook].” Um dos seus vídeos está igualmente a circular pelo YouTube e, claro está, é um sucesso.

 

Em poucas horas, Chapman despertou o interesse da imprensa internacional, que não resistiu a uma boa história de espionagem numa versão mais moderna e com contornos mais escaldantes. Como dizia aquele jornal de Washington: “It's so much easier when "From Russia With Love" is a total babe. It's all so Natasha, so Ninotchka, so Cold War retro.”

 

Chapman, à semelhança do que acontece com os outros supostos agentes, é acusada de conspiração por actuar nos Estados Unidos para um Governo estrangeiro sem ter pedido autorização ao Procurador-Geral americano. De todos os suspeitos, Chapman era uma das que se movia em esferas influentes com acesso a posições importantes.

 

Champan actuava no ramo imobiliário em Nova Iorque, mas já tinha desempenhado funções importantes em Londres no sector financeiro, e de acordo com vários testemunhos de pessoas que conviveram com ela, é uma pessoa muito activa, dinâmica e sociável.

 

Anna Chapman é na verdade Anya Kuschenko, filha de um embaixador russo. Mas, pouco interessa este pormenor, perante uma versão feminina em carne e osso do James Bond, e que poderia ser vizinha de qualquer cidadão comum.

 

Mais outro ingrediente apimentado para esta história... Uma amiga de escola de Chapman, citada pelo The Guardian, revelou que a agente era uma “party animal”, uma ideia corroborada por outras fontes que revelaram o seu gosto por festas e divertimento. Seja como for, as “festas” agora serão outras, já que o tribunal recusou o pedido de fiança.

 

No meio de tudo isto, Chapman diz que é divorciada de um homem francês, dono de uma cadeia de supermercados que, entretanto, já veio dizer que nem sequer a conhece (certamente para grande infelicidade deste). Por outro lado, o site lifenews.ru disse que ela foi casada com um inglês.

 

Como qualquer boa história de espionagem, muito há ainda por descobrir.

 

Da história de espiões à teoria da conspiração

Alexandre Guerra, 29.06.10

 

Barack Obama e Dimitri Medvedev há uns dias em Washington/Foto: AP/RIA Novosti

 

Por detrás de uma boa história de espionagem existe sempre uma teoria da conspiração. Apesar do FBI ter informado hoje que a detenção dos 10 alegados agentes russos no Domingo se ficou a dever à suspeita de que estariam para abandonar os Estados Unidos, Moscovo acusa as autoridades americanas de não estarem a fornecer a informação necessária sobre este assunto.

 

O Governo russo recusa qualquer envolvimento neste caso, acusando as autoridades americanas de tecerem acusações infundadas num tom de regresso à Guerra Fria. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, disse que está a aguardar uma explicação de Washington.

 

O primeiro-ministro Vladimir Putin já manifestou a sua preocupação junto do antigo Presidente americano, Bill Clinton, que se encontrava em Moscovo para uma conferência. Putin receia que este caso possa afectar “as coisas positivas alcançadas nos últimos anos”. Uma fonte da administração americana citada pelo New York Times, revelava que o Presidente Barack Obama também estava desconfortável com o “timing” da operação.

 

Os receios de Putin podem ter algum fundamento, uma vez que, segundo a informação disponibilizada nos documentos da acusação levados a tribunal, os alegados espiões terão sido treinados pelo Russian Foreign Intelligence Service (SVR). O FBI informou ainda que aqueles estariam a actuar em solo americano há vários anos.

 

Moscovo tem questionado também o “timing” desta detenção, já que surge poucos dias após uma visita do Presidente russo, Dmitri Medvedev a Washington, que ocorreu num ambiente amistoso, demonstrando um dos melhores momentos nas relações entre os Estados Unidos e a Rússia desde o fim da Guerra Fria. “O momento em que [a detenção] foi feita foi escolhido com um certo requinte”, disse Lavrov, com algum sarcasmo à mistura.

 

O chefe da diplomacia sugere que existe alguém ou algum grupo poderoso e influente na estrutura de poder americana que tem interesse em “minar” as boas relações entre Moscovo e Washington.

 

Também Gennady Gudkov, antigo agente do KGB e actual vice-presidente do Comité de Segurança da Duma, disse ao The Moscow Times que esta operação do FBI pode ter como objectivo descredibilizar a política de Obama face à Rússia.

 

“Agora, milhões de americanos vão pensar que a Rússia queria apenas ser parceira dos Estados Unidos para que pudesse ir atrás de segredos americanos como na Guerra Fria”, disse Gudkov. “Parece o trabalho de alguém muito poderoso e que está na oposição política a Obama, ou um ‘falcão’ militar ou um grupo de ‘intelligence’ que não vejam com bons olhos o restabelecimento das relações com a Rússia”, acrescentou Gudkov.

     

Uma história de espiões à antiga

Alexandre Guerra, 28.06.10

 

Afinal, quase 20 anos depois do fim da Guerra Fria, Moscovo e Washington ainda parecem gostar dos “jogos” de espiões. Em comunicado, o Departamento de Justiça norte-americano anunciou esta Segunda-feira a detenção de alegadamente 10 agentes secretos ao serviço da Rússia.

 

Oito destes indivíduos foram ontem presos pelo FBI, sob a acusação de terem sido incumbidos de missões “deep cover” a longo prazo nos Estados Unidos em nome do Governo russo. Outros dois eventuais agentes foram também detidos, debaixo das mesmas acusações mas em processos diferentes.

 

Os supostos espiões exerciam funções para o Governo russo nos Estados Unidos sem que tivessem efectuado qualquer notificação prévia ao Ministério Público, tal como a lei federal exige. As autoridades americanas acreditam que os indivíduos estariam a actuar sob disfarce em manobras de “intelligence”.

 

Os detidos foram apresentados em tribunal durante o dia de hoje debaixo da acusação de conspiração por actuarem em solo americano como agentes para um Governo estrangeiro sem terem notificado previamente o Procurador-Geral. Nove dos dez supostos espiões foram também acusados de lavagem dinheiro. Existe ainda um alegado 11º primeiro espião que se mantém em fuga.

 

No xadrez da geoestratégia Moscovo e Washington jogam interesses no Quirguistão

Alexandre Guerra, 08.04.10

 

Vyacheslav Oseledko/Agence France-Presse/Getty Images

 

O conflito que eclodiu ontem no Quirguistão e que já provocou mais de 40 mortos coloca no xadrez da geoestratégia um confronto entre Washington e Moscovo. É o palco onde se volta a um jogo de influência e poder, fazendo relembrar a lógica de confrontação de potências no século XIX naquela região entre a Rússia e o então Império Britânico.

 

A oposição, que mais uma vez  se cansou da corrupção, do aumento dos preços e da pobreza (um dos países mais pobres da Ásia Central), espoletou uma revolução em três cidades com o objectivo de derrubar o actual regime e colocar no seu lugar um “Governo popular”.

 

Os efeitos imediatos conduziram à demissão do primeiro-ministro Daniyar Usenov, embora o Presidente Kurmanbek Bakiyev se mantenha no poder, até ao momento com o apoio de Washington e de Moscovo.

 

No entanto, isto não quer dizer que a Casa Branca e o Kremlin partilhem a mesma visão e interesses sobre o enquadramento geoestratégico do Quirguistão. Na verdade, dificilmente os Estados Unidos e a Rússia conseguirão harmonizar interesses estratégicos a longo prazo na Ásia Central e muito menos coabitarem fisicamente naquela zona.

 

O Quirguistão surge assim como um palco estratégico e fundamental para os Estados Unidos e a Rússia jogarem os seus interesses. A BBC News referia que o Quirguistão era uma espécie de “hub” para os planos das superpotências.

 

Caso se efective a queda de Bakiyev, Washington e Moscovo não perderão tempo a mobilizar uma ofensiva diplomática e política para alinhar o rumo da revolta de acordo com os interesses de cada um.

 

Tal como acontece noutros territórios pertencentes ao antigo Império Soviético, qualquer movimentação norte-americana naquelas zonas representa uma relação de forças constante com Moscovo. A problemática do alargamento da NATO aos antigos países do Pacto de Varsóvia e às repúblicas da defunta URSS é o melhor exemplo dessa dinâmica.

 

Mas, também no âmbito da guerra no Afeganistão se foram criando focos de tensão em países mais remotos da Ásia Central, com os quais historicamente os Estados Unidos nunca tiveram qualquer proximidade.

 

Ora, em poucos anos Washington não só se aproxima de alguns países da Ásia Central e do Cáucaso, através de uma diplomacia pública mais agressiva, como consegue literalmente colocar homens no terreno, através de instalações militares de apoio à guerra no Afeganistão.

 

O Quirguistão é um bom exemplo, visto que os Estados Unidos têm a base militar de Manas muito importante nos esforços de guerra no Afeganistão. Base essa que ganhou ainda mais relevância depois do encerramento das instalações militares americanas no Uzbequistão.

 

Assim, no actual quadro político, os Estados Unidos têm muito a ganhar ou, pelo menos, pouco têm a perder com a manutenção do actual chefe de Estado no poder. Embora Bakiyev tivesse ameaçado no ano passado encerrar a base, depois de Moscovo ter prometido um pacote de ajudas significativas em troca da saída dos americanos do país, o Presidente Barack Obama acabou por convencer o seu homólogo do Quirguistão a assegurar a presença daquelas instalações.

 

Perante isto, Washington tem interesse na manutenção do actual “status quo”, não sendo por isso de estranhar as declarações imediatas da Administração de apelo à vigência da lei e à confiança de que o Executivo tinha a situação controlada.

 

Por outro lado, a Rússia tenta o mais possível puxar para a sua esfera de influência o regime de Bishkek, sempre numa lógica expansionista sobre toda a sua área de influência histórica. Uma das formas de fomentar essa proximidade e, por vezes, subjugação tem sido através dos elos com as populações russas que vivem nesses países e regiões. Acontece assim, por exemplo, nas repúblicas do Cáucaso Norte, na Geórgia ou na Ucrânia. A isto acrescenta-se a pressão energética, económica e militar através da qual Moscovo consegue, nalguns casos, manter um grau de influência considerável.

 

Relembre-se que o actual chefe de Estado do Quirguistão é resultado de uma revolta de rua em 2005, conhecida como a Revolução das Túlipas, surgindo Bakiyev na altura como a esperança para a democratização e “limpeza” de um pais que, desde a implosão da URSS em 1991, nunca se libertou dos tiques autoritários da governança política.

 

Tal como em tantas outras revoluções “coloridas” ou “floreadas” que nos últimos anos se têm verificado em países do antigo Império Soviético, o idealismo rapidamente dá lugar à desilusão e à frustração. As reformas ficam pelo caminho e as promessas por cumprir. Bakiyev, que há uns anos era visto como um farol para a democracia, é hoje criticado e é lhe exigido que abandone o poder.

 

Washington e Moscovo estão perfeitamente cientes desta lógica de mobilização de massas espontânea com o objectivo de provocar revoltas e “fabricar” líderes salvadores, mas sabem também que são processos pouco sustentados e que raras são as vezes onde há uma mudança efectiva de paradigma de governação.

 

Assim, numa perspectiva geoestratégica realista (muitos diriam cínica), para Washington e Moscovo o importante é aproveitar estes momentos de ruptura e, por vezes, até de euforia, para fomentarem alinhamentos políticos sólidos com o eventual “senhor que se segue”.