Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Um livro obrigatório na comunicação política

Alexandre Guerra, 15.01.15

 

transferir.jpg

 

David Axelrod, um dos homens de maior confiança de Barack Obama e um dos principais responsáveis pelo seu sucesso eleitoral em 2008, está prestes a publicar um livro sobre a sua experiência profissional enquanto consultor de comunicação na área da política, onde fez mais de 150 campanhas. Um livro obrigatório para quem trabalha e gosta de comunicação política.

 

A maior estrela da comunicação política da actualidade é, imagine-se, um idealista

Alexandre Guerra, 22.04.14

 

David Axelrod, um consultor político idealista que sempre se deu bem com candidatos "ingénuos"

 

Foi um dos grandes estrategos não apenas da primeira vitória presidencial de Barack Obama em 2008 (e também em 2012), mas da euforia comunicacional que se gerou à volta daquela que era então a grande esperança para os Estados Unidos e para o mundo. Amigo íntimo de Obama do círculo de Chicago, David Axelrod tornou-se numa estrela mundial da comunicação política.

 

Após ter reeleito Obama em 2012, Axelrod afastou-se das lides da Casa Branca para se dedicar sobretudo à sua empresa de consultoria, mas sem nunca deixar de meter ao serviço do Presidente as suas “skills” comunicacionais. Agora, mais liberto das suas responsabilidades políticas, Axelrod tem aparecido por várias vezes nos meios de comunicação social a fazer a defesa de algumas políticas de Obama. Um trabalho que também tem desenvolvido nas redes sociais.

 

Embora em muitos aspectos seja um profissional da comunicação política como tantos outros, Axelrod tem alguns traços que o diferenciam num sector, por vezes, marcado por algum mimetismo. Sempre se assumiu como um homem de causas, algumas bastante progressistas, e partiu desta sua maneira de pensar e viver para trabalhar, sobretudo, campanhas de políticos afro-americanos nos Estados Unidos. Com bastante sucesso, diga-se.

 

Esta vertente é, aliás, uma das suas imagens de marca. Assim como a abordagem inovadora às novas tecnologias no âmbito da comunicação política. Como alguém escrevia no The Guardian, Axelrod tem mais razões para clamar créditos do que muitos outros.

 

Axelrod é, de certa forma, um idealista político e, talvez por isso, o seu trabalho só seja eficazmente compatível com candidatos dotados de um perfil específico. À luz desta lógica não será de estranhar a tímida experiência comunicacional que Axelrod teve com Mário Monti na campanha para as eleições gerais em Itália do ano passado. Monti pode ser tudo, menos um homem de paixões ou convicções. É sobretudo um académico e tecnocrata sem qualquer chama, aclamado apenas pelos “mercados” e por alguns ministros das Finanças.

 

Já mais sentido para Axelrod poderá fazer a recente contratação do Labour britânico. Soube-se há uns dias que Ed Miliband vai contar com os serviços de homem de Chicago para ajudar na campanha das eleições legislativas de 2015. “Usefully for Miliband, Axelrod has an impressive record with ingenue candidates, having first helped hone Obama as a distinctive post-Clinton era politician, when he ran for the Senate in 2004”, lia-se ainda no The Guardian.

 

Em declarações dadas por Axelrod é evidenciada a sua vertente mais idealista na forma como encara comunicação política, ao justificar a assinatura do contrato pelo facto de ter tido algumas “longas conversas” com Miliband, menos políticas e mais filosóficas, de como se poderá criar modelos económicos sustentáveis para o século XXI, com oportunidades alargadas.

 

Depois da experiência pouco entusiasmante em Itália, vai ser muito interessante acompanhar o trabalho a desenvolver por Axelrod em Inglaterra, um país com uma tradição comunicacional mais próxima da dos Estados Unidos, mas que tem na sua sociedade a matriz civilizacional europeia. 

 

*Post publicado originalmente no PiaR

 

Algum dia "Bibi" tinha de criar uma crise séria com Washington

Alexandre Guerra, 15.03.10

 

 

 
Algum dia o chefe do Governo hebraico, Benjamin Netanyahu, haveria de cometer um acto de tal maneira despeitado face a Washington que as relações entre Israel e os Estados Unidos sofreriam graves consequências. Ora, esse dia parece ter chegado, ou melhor, já chegou há uma semana, aquando da visita do vice-Presidente americano, Joe Biden, a Jerusalém. Nesse mesmo dia, "Bibi" anunciava a construção de 1600 novas casas num colonato em Jerusalém Oriental.
 
Esta posição além de ser uma clara afronta aos palestinianos e desferir um rude golpe nas intenções de Biden em retomar o processo negocial, assumiu-se sobretudo como um desafio sem precedentes a Washington.
 
Embora tal nunca tenha sido assumido, Netanyahu teve claramente o objectivo de enviar uma mensagem para a administração do Presidente Barack Obama, a qual vê com grande desconfiança. Uma ideia corroborada pelo principal conselheiro de Obama, David Axelrod, que não hesite em dizer que a iniciativa de Telavive foi calculada e que além de ser “destrutiva” é um “insulto” aos Estados Unidos.
 
Ao anunciar a construção das novas casas no mesmo dia em que Biden está no território, Netanyahu tem um gesto ousado e talvez irresponsável, que poderá ter consequências muito danosas nas relações israelo-americanas. Paul Adams, correspondente da BBC em Washington descrevia a situação da seguinte forma: “O vice-Presidente Joe Biden foi a Israel para oferecer amor mas em vez disso foi esbofeteado.”
 
De tal forma, que o embaixador Israel nos Estados Unidos, Michael Oren, já admitiu que se está a viver o pior período das relações diplomáticas entre os dois países em 35 anos. Entretanto, a secretário de Estado Hillary Clinton já exigiu a Netanyahu uma resposta “formal” às preocupações manifestadas por Washington.
 
A administração de Barack Obama está neste momento a exercer uma grande pressão sobre Israel e é muito provável que aproveite a actual “crise” para dar uma sério aviso a Netanyahu. No entanto, este continua num registo algo provocatório ao ter participado esta Segunda-feira numa cerimónia de inauguração de uma sinagoga restaurada no bairro judeu da cidade velha de Jerusalém, num evento que a polícia tinha identificado como foco de violência.
 
Sinagoga de Hurva esta Segunda-feira/AP
 
Talvez por estar consciente da situação explosiva por si criada, Netanyahu durante a cerimónia tentou aliviar a tensão ao exortar a importância da liberdade de outras religiões. Também o mayor da cidade de Jerusalém apelou aos palestinianos para terem calma.
 
Seja como for, neste momento estão reunidas as condições para gerar um foco de violência entre palestinianos e judeus na cidade Jerusalém, bastando apenas que um dos muitos rastilhos soltos seja incendiado.
 
Obama terá a perfeita noção de que por bem menos já eclodiram momentos de extrema violência ente palestinianos e judeus. Por isso, as próximas horas vão ser muito críticas, com Washington certamente a desenvolver uma série de contactos por detrás da cortina, com vista a atenuar um problema criado por Netanyahu. Ao mesmo, Obama não deveria deixar de aproveitar esta oportunidade para dar um sério aviso ao primeiro-ministro israelita, para que não volte a repetir este tipo de afronta.
 

Intriga palaciana na West Wing entre os amigos David Axelrod e Rahm Emanuel

Alexandre Guerra, 12.03.10

 

 

 

De há uns tempos a esta parte têm surgido publicamente algumas “brechas” no seio da Casa Branca, revelando choques de estilos e de opiniões entre dois dos principais homens de confiança do Presidente Barack Obama.

 
A julgar pela informação que tem sido veiculada por alguma imprensa, o chefe de gabinete, Rahm Emanuel, e o principal conselheiro político, David Axelrod, estão a afirmar as suas personalidades como se de feudos políticos tratasse, criando um clima de rivalidade entre ambos.
 
Não é por isso de estranhar que ainda ontem, o Financial Times titulasse em editorial “Uma equipa de rivais”, referindo-se precisamente ao clima de confrontação entre Emanuel e Axelrod na West Wing.
 
Também o maquiavélico Karl Rove, o principal conselheiro político do ex-Presidente George W. Bush, se referiu ao clima de crispação entre aqueles dois homens, no entanto, fez a ressalva de que muito do que se está a criar é alimentado pela imprensa. É por isso que ao Politico confessou ter alguma simpatia por Emanuel e Axelrod. 
 
Neste registo está Lynn Sweet, jornalista e colunista do Chicago Sun Times, que em declarações ao programa “Top Line” da ABC News, afastou a ideia de “intriga palaciana”, por considerar que não existe qualquer tensão entre os dois e que se está perante uma “não história”. O que existe, sim, é uma grande pressão sobre a administração por causa do plano de reforma de saúde, e que é natural que possam surgir desacordos relativamente a este tema, mas que isso não pode ser visto como um conflito entre Emanuel e Axelrod. Além disso, é preciso lembrar que os dois são amigos e que continuarão a sê-lo depois da era Obama.
 
Seja como for, Emanuel é conhecido por ser uma pessoa muito combativa, mas também intempestiva e bastante ambiciosa. E talvez, por isso, o chefe de gabinete tem sido duramente criticado por alguma imprensa e até mesmo por membros da sua administração por causa do seu comportamento. Como resposta, os apoiantes de Emanuel têm tentado passar a imagem de um homem pragmático e mais modesto nos seus objectivos.
 
Uma coisa parece ser certa, Obama tem confiança em ambos, o que de certa forma poderá estar a contribuir para a “paralisia política” que se fala, já que as opiniões de ambos poderão anular-se. É por isso que o mesmo Financial Times refere que a culpa não está em Emanuel ou em Axelrod, mas sim no próprio Presidente.