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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Vai começar no Afeganistão a época da "ofensiva anual da Primavera"

Alexandre Guerra, 22.04.15

 

À semelhança do início da época de caça, também no Afeganistão os taliban anunciaram o começo da época da "ofensiva anual da Primavera", agendado para a próxima Sexta-feira. Prometeram ataques sangrentos em todo o país, numa altura em que a presença americana no terreno está reduzida a menos de 10 mil homens, com tarefas, sobretudo, de apoio e de formação.

 

Seguir o dinheiro

Alexandre Guerra, 11.08.14

 

No início dos anos 80, com os soldados soviéticos no Afeganistão, isto era assim: as secretas americana (CIA) e saudita (GID) gastavam milhões de dólares no apoio, directo ou indirecto, aos mujahedin no Afeganistão para que estes combatessem o Exército Vermelho.

 

Tratavam-se de "covert operations" e, por isso, no caso da Arábia Saudita, o dinheiro era, primeiro, enviado de Riade para o seu embaixador nos Estados Unidos, Bandar bin Sultan. Este, posteriormente, reenviava os fundos para uma conta secreta da CIA na Suíça. A partir daqui, os operacionais da Near East Division efectuavam as compras de material militar no mercado internacional, a países como Israel ou até mesmo a China, na altura feroz inimiga da URSS.   

 

Algo vai mesmo mal quando Portugal recebe lições de justiça do Afeganistão

Alexandre Guerra, 05.03.13

 

Kabul Bank em Cabul/Foto:Shah Marai/AFP/Getty

 

Por incrível que pareça, o Afeganistão deu esta Terça-feira uma lição de justiça a Portugal, ao condenar dois antigos responsáveis do Kabul Bank a cinco anos de cadeia, depois de terem sido acusados de uma fraude gigantesca naquela instituição, descoberta em finais de 2010. Os dois arguidos foram ainda condenados a multas pecuniárias. Um a quatro anos de prisão é o destino de outros 21 funcionários do banco. 

 

À semelhança do que aconteceu com outras instituições financeiras em vários países, nomeadamente em Portugal, com o escandaloso BPN, também o Kabul Bank foi alvo de uma massiva fraude, assente em empréstimos sem qualquer tipo de cobertura (bad loans), no valor de 900 milhões de dólares, canalizados sobretudo para a elite política e algumas empresas “amigas”. Um tema já abordado por este autor em Abril de 2011.

 

Mas ao contrário do que tem acontecido em Portugal, com o vergonhoso processo judicial BPN (e já agora o BPP), a justiça no Afeganistão foi célere, tendo criado um tribunal especial para este caso em Junho de 2012. Menos de um ano depois foram conhecidas as sentenças, com várias pessoas envolvidas a serem condenadas para a cadeia (uma pena que, a julgar pelos vários casos de “colarinho branco” que se vão observando em Portugal, não parece estar contemplada no Código de Processo Penal).

 

A ironia desta história é o facto de muitos observadores considerarem estas penas muito leves, quando comparadas, por exemplo, com o processo de Bernie Madoff, condenado a 150 anos e a uma multa de 65 mil milhões de dólares.

 

Seja como for, os casos não são comparáveis e, em abono da verdade, já teria sido muito saudável para Portugal se os responsaveis pelo fraude do BPN tivessem sido condenados a penas "leves" semelhantes àquelas que foram aplicadas no Afeganistão. 

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.

 

A "tribo" do skate no Afeganistão

Alexandre Guerra, 11.09.12

 

Uma rapariga afegã a fazer um "ollie" em frente aos destruídos Budas de Bamyan, Afeganistão  

 

Em determinadas zonas do mundo, algumas mais remotas do que outras, sobretudo naquelas que estão marcadas pelo conflito, não há grande espaço para as pequenas coisas normais que fazem parte do quotidiano de qualquer jovem (e não só) numa sociedade pacífica e minimamente desenvolvida.

 

Para tentar contrariar esta trágica realidade foi fundada em Cabul a Skateistan, uma ONG que providencia apoio à prática do skate e a programas de educação no Afeganistão.

 

Num país dilacerado há anos pela violência e pela pobreza, e onde quase 70 por cento da população tem menos de 25 anos, iniciativas como a Skateistan parecem ser ferramentas muito mais profícuas ao nível da integração dos jovens do que muitas das estratégias milionárias que as potências externas impõe, por vezes, de forma cega e sem qualquer sentido social.

 

Não é por isso de estranhar que na missão da Skateistan se leia que o skate é uma “ferramenta” para o “empowerment” dos jovens, proporcionando-lhes um sentimento de pertença a uma determinada comunidade, à qual se entregam com paixão e não implica andarem com uma Kalashnikov na mão.

 

Quem já praticou skate, como foi o caso do autor destas linhas durante vários anos, percebe que neste tipo de modalidades mais “extreme” se desenvolve um sentimento forte de pertença a uma “tribo” que se vive com toda a devoção.

 

Ora, em sociedades como a afegã, onde os jovens convivem lado a lado com talibans e al Qaeda podendo ser recrutados a qualquer momento, este sentimento de pertença a uma “tribo” de skaters pode significar a normalidade nas suas vidas e a rejeição de um caminho potencialmente tortuoso e sangrento.

 

Quando um toque de telemóvel se torna num "salvo-conduto"

Alexandre Guerra, 01.04.12

 

 

Conta a BBC News que os taliban estão a utilizar a rede de telemóveis para disseminar propaganda e intimidar os afegãos para não apoiarem o Governo ou aderirem às forças de segurança do país.

 

Além de mensagens de texto, os taliban estão também a enviar vídeos com imagens de atentados suicidas e explosões à beira da estrada, numa tentativa de intimidar a população para os perigos que existem caso decidam apoiar o Governo.

 

Talvez, por isso, não seja de estranhar que são cada vez mais os afegãos a fazer “uploads” de toques de telemóvel com cânticos religiosos ou sons identificados com os insurrectos, como uma espécie de "salvo-conduto" em regiões com forte presença taliban.

 

João Silva expõe no Porto dez anos de fotografias tiradas no Afeganistão

Alexandre Guerra, 10.01.12

 

Soldados britânicos depois de terem sido deixados por um helicóptero na base de Sangin, Helmand/Foto tirada a 13 de Julho de 2007 por João Silva 

 

"Desde que fui lá em 1994, durante a guerra civil, apaixonei-me logo pelo país e a ironia é que, anos mais tarde, fiquei ferido e deixei uma parte de mim lá", disse o fotógrafo português João Silva à agência Lusa, por ocasião da abertura da sua exposição no Centro Português de Fotografia no Porto e que se prolonga até 25 de Março, na qual se poderá ver o seu trabalho, fruto dos dez anos em que esteve no Afeganistão ao serviço do New York Times.

 

João Silva, que reside na África do Sul e tem uma longa experiência em cenários de conflito, foi, em Outubro de 2010, vítima de uma explosão de uma mina no Afeganistão, que lhe fez perder as duas pernas abaixo do joelho.

 

Precisamente um ano anterior, mais concretamente a 29 de Outubro de 2009, o Diplomata destacava neste espaço uma das suas fotografias no Iraque.

 

Mais recentemente, o autor destas linhas escreveu um texto sobre o famoso The Bang Bang Club, do qual João Silva fazia parte.  

 

Morte de Hussein há 1300 anos é pretexto para xiitas e sunitas alimentarem divisões

Alexandre Guerra, 08.12.11

 

Imã Hussein na Batalha de Karbala (680) numa luta desigual, acabando por perecer nas mãos dos inimigos/Brookly Museum 

 

O Ashura, celebrado na passada Terça-feira nalguns países muçulmanos, trouxe à luz do dia o conflito crónico entre os dois principais ramos do Islão, xiita e sunita. Em apenas um dia, foram emitidos vários sinais, em diferentes locais e por diferentes intervenientes, que agudizaram o estado de animosidade histórica entre xiitas e sunitas.

 

No Afeganistão, vários atentados suicidas coordenados em Cabul, Kandahar e Mazar-i-Sharif provocaram a morte de pelo menos 59 crentes xiitas que celebravam o Ashura. Uma data importante para aquele ramo do Islão, porque assinala a morte de Hussein, neto de Maomé e considerado pelos xiitas o sucessor do profeta.

 

Apesar da extrema violência que tem assolado o território afegão, é a primeira vez que ocorre um atentado sectário deste género. Embora a minoria xiita tenha estado sob pressão durante o regime taliban, nunca tinha sido alvo de actos violentos direccionados.

 

E, de facto, os taliban rejeitaram de imediato qualquer responsabilidade nos atentados, o que se confirmou na Quarta-feira, com a reivindicação do ataque por parte de um pequeno grupo terrorista baseado no Paquistão. O Lashkar-e-Jhangvi (LeJ) tem ligações fortes à al-Qaeda, de base sunita, e também aos taliban.

 

Não são ainda claras as razões que levaram aquele grupo a atacar a comunidade xiita no Afeganistão, mas alguns observadores falam na possibilidade de se estar a incitar o sectarismo no País, eventualmente, com o objectivo de fragilizar a actual liderança política do Presidente Hamid Karzai e o modelo de governação daquele Estado.

 

O jornal paquistanês Dawn interrogava-se precisamente sobre essa possibilidade e referia que as autoridades afegãs acreditam que estes atentados tinham como objectivo reforçar a insurreição que se prolonga já há dez anos, altura em que os Estados Unidos decidiram invadir o Afeganistão.

 

Uma coisa é certa, sublinhava o mesmo Dawn, os atentados de Terça-feira importaram do Iraque e do Paquistão um estilo de violência sectária até então inexistente no Afeganistão.

 

Ainda nesta lógica de guerra intestina islâmica entre xiitas e sunitas, da Síria vieram sinais reveladores de que os tempos vindouros poderão trazer ainda mais violência sectária. Dominada há décadas pela minoria alauita (xiitas), a Síria é um país predominantemente sunita, embora, por razões óbvias, tenha mantido relações estreitas com o regime xiita do Irão e partilhe com este o apoio a movimentos como o Hezbollah ou o Hamas.

 

Curiosamente, também na Terça-feira, um dos líderes sunitas da oposição ao regime de Bashar al-Assad veio cavar ainda mais as trincheiras.  Burhan Ghaliun, líder do recém criado Conselho Nacional Sírio, avisou que se a Síria vier a ser liderada por si cortará as relações com o Irão, com o Hezbollah e com o Hamas.

 

Reagindo a estas palavras, e também por ocasião da celebração do Ashura, mas desta vez no Líbano, o líder xiita do Hezbollah, Hassan Nasrallah, veio manifestar o seu apoio a Bashar al-Assad. Numa rara aparição pública e falando para milhares de pessoas num bairro a sul de Beirute, um bastião xiita, Nasrallah aproveitou ainda para atacar Ghaliun.

 

O Sonho de Mina

Alexandre Guerra, 29.11.11

 

 

 

Todas as crianças têm sonhos, mesmo quando vivem em realidades de enorme dureza e de drama, como é o caso do Afeganistão. Aqui, o conceito de "crise" facilmente se relativiza.

 

Numa tentativa de tornar esses sonhos mais reais, a Hope of Mother, uma ONG afegã, tem como objectivo construir escolas e centros de formação profissional no Afeganistão. Do seu esforço, já foi construída uma escola em Jalalabad (junto à fronteira com o Paquistão), que contou com o financiamento da portuguesa AMI.

 

E para ajudar a divulgar o trabalho da Hope of Mother em Portugal foi criado o blogue O Sonho de Mina, cujos seus autores estão ligados de dferentes formas à realidade afegã.  

 

Uma das autores do blogue, a Margarida, é jornalista do Expresso com experiência no terreno afegão e noutros teatros de conflito, e esteve em Abril último naquela escola, constatando que tinha mais alunas do que alunos. Uma aritmética perfeitamente normal em qualquer escola portuguesa ou europeia, mas profundamente motivadora neste caso, já que a área de Jalalabad tem uma forte influência talibã.

 

A Hope of Mother foi fundada por Mina Wali que regressou recentemente ao Afeganistão para promover contactos com vista à elaboração de um projecto para a criação de um Centro Vocacional em Cabul.

 

A rede Haqqani terá contabilizado mais um atentado terrorista para a sua conta

Alexandre Guerra, 31.10.11

 

Há uns dias, o Diplomata dedicou alguma atenção à rede Haqqani que, segundo fontes do Governo afegão, pode ter estado por detrás do atentado suicida a um comboio da NATO no passado Sábado, em Cabul, provocando 17 mortos, entre os quais nove americanos, dois cidadãos britânicos e um soldado canadiano.